A visagem do Paulinho do Sagrado
Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 16/11/2010 às 00:00 | Atualizado em: 16/11/2010 às 00:00
Massilon de Medeiros Cursino*
Início da década de 90, o Boi Bumbá de Parintins começa a se projetar na capital do Estado para se transformar na febre assistida nos anos seguintes.
O manauara já ensaiava o dois pra lá, dois pra cá em suas casa noturnas. As “bandas de boi” iam de Parintins fazer as festas na quadra da Aparecida, na TVlândia e em outras casas de shows.
Paulinho DU Sagrado, compositor e musico era um desses parintinenses que compunha uma das bandas de toadas do lado do Garantido. Pode-se dizer que ele foi um dos precursores no gênero.
Certa vez, Paulinho DU Sagrado chega angustiado à casa onde eu (Massilon) morava, numa vila ao lado da “Panificadora Pátria”, na avenida Epaminondas. Chateado e triste, Paulinho bate a minha porta e vai logo desabafando, enquanto ainda estava destrancando o cadeado do portão:
– Lonlon, meu irmãozinho, perdi o barco. O Fredinho (Fred Góes) me levou prum tal de “embrião” (como se chamavam os conjuntos de casas populares, distantes da cidade) e eu dizia pra ele “bora cara”… e ele só respondia mais uma, mais uma, e aí quando eu chego no cais porto o “Cisne Branco” (navio) já ia lá fora.
E completou:
– O pior é que o Sidão (Sydney Rezende) foi na viagem e, querendo me ajudar, levou na frente a minha bagagem. Agora, eu vou ficar fedendo aqui meu irmão. Deixa eu dormir na tua casa hoje mano, deixa!
Com uma amizade fraterna construída com meus irmãos mais velhos, na esquina das ruas 31 de março e Armando Prado, respondi positivamente pro Paulinho, no entanto, aproveitei para “pregar” uma no amigo, cuja fama de medroso de visagem vinha de longas datas:
– Paulinho, mano, aqui tem dois quartos, lá em cima, mas só tem um ventilador que fica no quarto que eu durmo; tu dormes no quarto de frente e abre as janelas pra entrar um vento (uma janela dava pra rua e a outra, da lateral, dava de frente ao Hotel Mônaco).
Para completar, expus a situação que daria um nó na cabeça do amigo:
– Olha Paulinho, só tem um problema, ali próximo, na Praça da Saudade foi um cemitério (há menos de 100 metros) e tem umas visagens que vem de lá assustar a gente…
Dito isto, desejei boa noite e dirigi-me a meu quarto para dormir, enquanto o Paulinho ficou pensativo, pra ser mais franco, em polvorosa. Encucou tanto que lá pelas duas da manhã gritou com uma voz apertada, vindo a acordar-me.
Corri para o quarto ocupado por Paulinho achando que uma coisa horrível poderia ter acontecido, diante do grito assustador. Antes de empurrar a porta do quarto, me armei com uma vassoura em punho. Pisei para abrir a porta encostada e dei de cara com o amigo sentado na cama com os olhos arregalados.
Foi quando perguntei:
– Paulinho, que foi que houve irmão? – E a resposta me veio de imediato:
– Lonlon, tinha uma “fuleira” da visagem querendo me engasgar! Eu já tava querendo dormir e de repente a “bacana” vem e me diz: – “Booom diiia!
Não sabia se ria ou se ouvia o reclame do amigo. Tentei encoraja-lo:
– Tu ficaste foi nervoso com o que eu te falei e aí achas que viste misura. Isso é psicológico, irmão!
Paulinho, em transe, com seus olhos firmes para a janela lateral, me respondeu ao seu estilo:
– Como psicológico Lonlon, se eu via tudo. Eu olhava pra essa janela e via o Mônaco, meu irmão. Como psicológico,cara, se o cenário era o mesmo!
*Economista, Bacharel em Direito.