Covardia do “ficha-suja” e consequências para o eleitora

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 02/10/2016 às 00:02 | Atualizado em: 29/12/2016 às 18:55

Por Aguinaldo Rodrigues *

Esta eleição municipal trouxe um novo marco na relação do candidato com o eleitor. Mudanças na legislação tornaram as campanhas mais enxutas, menos barulhentas, que poluíram menos as ruas e as frentes das casas.

O fim do financiamento por parte das empresas com certeza não acabou o “caixa dois”, mas equilibrou mais as forças.

O julgamento dos registros de candidaturas com base na Lei da Ficha Limpa ficou mais célere, assim como a disponibilização de informações por parte da Justiça Eleitoral.

A internet e as redes sociais transformaram o modo de se fazer campanha. Hoje a comunicação é instantânea, exigindo que veículos de imprensa busquem uma nova forma de dar notícia, sob pena de sucumbir rapidamente.

Enfim, foram mudanças que deram hoje um novo tom às campanhas e ao processo de eleição.

Mas, infelizmente, alguns comportamentos e condutas teimam em não ser esquecidos por aqueles que se acostumaram a métodos escusos para chegar ao poder, enganando o eleitor.

Um deles é esconder do eleitor que sua candidatura está indeferida. É um gesto covarde sonegar essa informação do seu eleitor, e continuar fazendo campanha da ilusão, da enganação.

Esse tipo de gente está presente nas eleições, assim como aquele está seguro apenas por uma liminar judicial, concorrendo por sua própria conta e risco. Isso porque sua situação ainda vai ser julgada e ele pode vir a perder o mandato, se por um acaso tiver sido eleito.

Não aclarar essa sua condição ao eleitorado é mais covarde ainda quando se trata do nosso caboclo ribeirinho, aquele que está distanciado dos recursos tecnológicos destes tempos.

Ademais, o ato de votar para o caboclo é um gesto quase sagrado, cercado de solenidade. Em muitas paragens, há toda uma preparação para ir às urnas. Começa com a vestimenta que vai ser usada para uma aparição pública que nem sempre acontece. Depois, há um aumento dos pingos de perfume naquele dia. Afinal, nunca se sabe com quem se vai dar de cara. Na vida urbana isso já não é assim, mas no interior é.

Veio-me à lembrança um lembrete da então ministra-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia, às vésperas das eleições de 2012.

Ela alertava ao eleitor os riscos que corria votando em um candidato “ficha-suja”. E explicava o porquê.

De forma simples, disse que são grandes as chances de quem teve registro indeferido pelo juiz eleitoral ser rejeitado também no tribunal regional  e, depois, na instância final, no caso, o Tribunal Superior Eleitoral.

Esse alerta ainda é muito atual e muito presente neste sábado, dia anterior ao pleito que vai escolher prefeitos e vereadores para o mandato de 2017 a 2020.

“Isso é importante que os eleitores tenham em mente”, disse ela em 2012, para arrematar: “A consequência do voto também é preciso ser considerada pelo próprio eleitor”.

É isso. Bom voto a todos.

* Jornalista e cidadão-eleitor

 

Foto: Reprodução/site Pragmatismo