Bestializados na praça dos Três Poderes

Quero ser lido
Publicado em: 09/02/2017 às 21:01 | Atualizado em: 09/02/2017 às 21:07
Por Tácius Fernandes *
O nosso Brasil varonil anda assombrado e com medo dos mais inusitados acontecimentos que se passam na República. Não são simples acontecimentos do cotidiano, mas fatos que estarrecem até os mais criativos autores de livros de terror.
No Palácio do Planalto, o déspota esclarecido, Michel Temer, parece aproveitar-se da sua baixa popularidade para fazer aprovar o seu pacote de maldade, enquanto a cúpula palaciana do PMDB tem como prioridade acabar com a operação Lava Jato.
Temer, que prega austeridade à população, criou um ministério tão-somente para abrigar e assim dar foro privilegiado a Moreira Franco, citado mais de 30 vezes em delações.
Seu segundo contra-ataque é a indicação de Alexandre Moraes para ministro do Supremo Tribunal Federal. Há controvérsias sobre o “evidente saber jurídico”, mas nenhuma dúvida sobre o fato de estar com as mãos e os pés submersos na política, na pior política, a dos envolvidos diretamente ou na periferia da Lava Jato.
Como informa o Correio Braziliense, Moraes “teve seu nome chancelado para o STF em um jantar com diversos senadores organizado por Renan Calheiros”. Precisa dizer mais sobre a missão do novo ministro no STF?
Sua terceira “bala de prata” contra a Lava Jato pode ser a nomeação do réu Renan Calheiros (PMDB) para ministro da Justiça.
Enquanto isso, no retorno dos trabalhos da Câmara dos Deputados, o primeiro ato dos parlamentares, com o apoio da base do governo Temer, foi a reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM) para a presidência da casa.
Maia detém o poder de decidir sobre as pautas do Congresso Nacional. Entretanto, terá o desafio de levar ao plenário as grandes discussões para tentar tirar o país da crise econômica.
Nesse contexto, não restam dúvidas que o grande desafio dos nossos representantes será propor alternativas que possam recuperar a economia, preservando os direitos adquiridos pela sociedade.
Também estarão na pauta as reformas trabalhista, tributária, política e da previdência que não poderão atingir só o lado mais fraco.
Já no Senado Federal, quem venceu a eleição para a presidência da casa foi o senador Eunício Oliveira (PMDB), citado nas delações da Lava Jato e aliado importante do presidente Michel Temer.
Nos próximos dias, o Senado será palco da sabatina e aprovação do novo ministro Alexandre de Moraes para o STF, sem contar que devem passar por essa casa a reforma da previdência e a medida provisória do ensino médio.
No STF, ocorreu a importante homologação das 77 delações de executivos da Odebrecht, que dá validade jurídica às mesmas, cujo material foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República para avaliação dos pontos que deverão ser investigados.
Outra decisão importante foi a realização do sorteio que definiu o ministro Facchin como novo relator da Lava Jato, em decorrência da inexplicada morte do ministro Teori Zavascki.
Ademais, a indicação do novo ministro Alexandre de Moraes, após aprovado no Senado, promete sacudir as relações na Suprema Corte.
No Tribunal Superior Eleitoral pode acontecer o julgamento da chapa Dilma-Temer, como afirmou o presidente Gilmar Mendes. Caso seja comprovado que a chapa cometeu irregularidade com uso de dinheiro de corrupção, como há grandes indícios, e a corte decida pela condenação, teremos eleição direta à sucessão de Temer, que foi efetivado na Presidência após o impeachment de Dilma, no ano passado.
Talvez um sopro de esperança possa vir dessa corte, pois apenas uma nova eleição pode reatar os laços com o povo brasileiro e dar credibilidade ao novo presidente.
Diante dos fatos, a obra “Bestializados”, de José Murilo Carvalho, parece uma narrativa da atual conjuntura brasileira. Na obra, o povo assistia aos acontecimentos “bestializado, sem compreender o que se passava, julgando ver talvez uma parada militar”.
Em outras palavras, o novo regime, ou seja, a República, teria passado despercebida àquela sociedade, o que a diferencia da atualidade é a consciência da sociedade brasileira, que apesar do comodismo de alguns, encontra-se atenta, preocupada, porém, de mãos atadas e bestializada.
* O autor é professor de história, coordenador de organização nacional da Rede Sustentabilidade