Parintins além do espetáculo: a Amazônia que gira a economia com arte
'O embate entre os bois Garantido e Caprichoso na arena do bumbódromo reverbera muito além do espetáculo'. Leia no artigo do especialista em Política e Estratégia, Fabiano Bó.

Ednilson Maciel, por Fabiano Bó*
Publicado em: 28/06/2025 às 08:32 | Atualizado em: 28/06/2025 às 08:32
Em um mundo em que identidades se diluem e manifestações populares perdem fôlego, o Festival Folclórico de Parintins reafirma a força cultural e econômica do Amazonas. Não é apenas festa. É uma engrenagem complexa que converte tradição em oportunidade, pertencimento em desenvolvimento.
O embate entre os bois Garantido e Caprichoso na arena do bumbódromo reverbera muito além do espetáculo: impacta diretamente a economia do estado, movimenta setores produtivos, ativa circuitos logísticos e posiciona o interior amazônico como referência nacional em economia criativa.
Segundo estimativas da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), a edição de 2024 ultrapassou R$ 180 milhões em movimentação econômica, impulsionada por um público de aproximadamente 120 mil visitantes. A projeção para 2025 é de manutenção desse impacto, com indicadores crescentes de profissionalização, fortalecimento da rede produtiva e expansão qualitativa da experiência.
Em apenas três dias, Parintins se consolida como um dos principais propulsores econômicos da região Norte, irradiando efeitos por meses em toda a cadeia de valor.
Nesse mesmo esforço de fortalecimento, segundo dados da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, somente com patrocínio direto aos bois, o Governo do Amazonas tem destinado anualmente cerca de R$ 10 milhões ao Garantido e ao Caprichoso, assegurando condições estruturais e criativas para que as agremiações mantenham a excelência técnica e artística que distingue o festival.
A esse valor somam-se os demais investimentos em infraestrutura, como saúde, segurança e saneamento básico. Trata-se de um aumento expressivo em relação a anos anteriores, que sinaliza o reconhecimento institucional da relevância estratégica do evento, não apenas como manifestação cultural, mas como vetor consistente de desenvolvimento regional.
Essa engrenagem envolve muito mais do que o espetáculo em si. Costureiras, marceneiros, técnicos de som, coreógrafos, artesãos, barqueiros, comunicadores, pequenos comerciantes e produtores locais compõem uma estrutura econômica que se mantém ativa ao longo de todo o ano.
Para instituições como a Embratur e o Ministério do Turismo, Parintins figura entre os eventos culturais estratégicos do Brasil, com destaque no turismo de experiência.
Pesquisas recentes da Fundação Getúlio Vargas reconhecem o festival como um modelo de economia criativa sustentável, articulando identidade regional, inclusão produtiva e retorno financeiro.
A permanência média dos visitantes gira entre cinco e sete dias, o que promove ocupação plena das hospedagens formais e alternativas, movimenta os modais de transporte aéreo e fluvial, impulsiona a gastronomia regional e dinamiza setores como turismo de base comunitária, logística de eventos e serviços criativos.
De acordo com o Observatório de Turismo do Amazonas, 97% dos participantes da edição de 2024 afirmaram que recomendariam o festival, e 95% expressaram desejo de retorno. Tais índices não apenas comprovam o êxito da experiência, mas evidenciam sua capacidade de fidelização e de ativação econômica no médio e longo prazo.
Parintins não é apenas medido por fluxo de turistas ou arrecadação. Sua relevância está na transformação simbólica e financeira que opera em um território muitas vezes negligenciado pelo olhar econômico nacional.
O novo bumbódromo, anunciado pelo governador do Amazonas, Wilson Lima, com capacidade para 25 mil pessoas, aliado às melhorias em infraestrutura e logística, reforça o alinhamento entre cultura, planejamento e desenvolvimento. Iniciativas como coleta seletiva, qualificação profissional e valorização de saberes tradicionais mostram que, quando bem gerido, um festival é também uma política pública inteligente.
Mais que uma conclusão, impõe-se uma constatação: Parintins deixou de ser apenas um espetáculo. Tornou-se uma estratégia de Estado. Não é apenas palco. É farol. Apoiar essa engrenagem é reconhecer, com inteligência institucional, que a cultura amazônica não é um acessório. É ativo, vetor e potência.
*O autor é coronel da Polícia Militar, especialista em Política e Estratégia (Adesg) e secretário-chefe da Casa Militar do Governo do Amazonas.
Foto: Yuri Pinheiro/Secom Parintins