Saber indígena da Amazônia é usado em pesquisa da Nasa

A investigação sobre o potencial terapêutico das plantas neuroativas vinculadas ao projeto é realizada na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Wilson Nogueira, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 07/06/2025 às 17:32 | Atualizado em: 07/06/2025 às 17:33

O neurocientista brasileiro Alysson Moutri revelou no programa “Conversa com Bial” do dia 4 de junho, na TV Globo, que os povos originários amazônicos colaboram com a pesquisa cientifica de plantas com princípios neuroativos que farão parte de um projeto científico da National Aeronautics and Space Administration (Nasa), na Estação Espacial Internacional.

Moutri é cotado para ser o primeiro cientista do mundo a realizar pesquisa científica no espaço. Até agora, as pesquisas são realizadas por astronautas orientados por cientistas em terra.

A investigação sobre o potencial terapêutico das plantas neuroativas vinculadas ao projeto dirigido por Moutri é realizada na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), sob a coordenação do geneticista Spartaco Astolfi Filho.

“[…] a gente está fazendo uma curadoria de plantas, estamos sendo auxiliados pelas tribos ( sic ) originárias, que estão apontando para a gente plantas aonde ( sic ) contém neuroativos”, disse Moutri, em um dos trechos do diálogo com o jornalista Pedro Bial, apresentador do programa.

Ele explicou que as moléculas neuroativas das plantas são caracterizadas na Ufam e depois transferidas para o seu laboratório em San Diego (EUA), onde são testadas para verificação se elas realmente têm um efeito neuronal.

“[…] passando por esse teste, elas serão enviadas à estação espacial”.

O cientista, em resposta ao apresentador, confirmou que é do seu interesse avançar na pesquisa do chá do Santo Daime, bebida composta pelo cipó-jagube e o arbusto-chacrona, que produz N,N-dimetiltriptamina (DMT), um composto psicoativo classificado como alucinógeno.

[…] a gente tem muito interesse [no DMT) porque é uma das moléculas que aumenta essa plasticidade neural e pode agir como um neuroprotetor. Então o DMT com certeza está na nossa lista de moléculas”.

Moutri explicou também que a sua experiência pessoal com a ayahuasca (nome indígena da bebida) contribuiu para que ele voltasse o seu olhar para o conhecimento ancestral:

“[…] é uma coisa que a gente na ciência moderna tende a ignorar. Eu acho que estou tentando resgatar isso agora. E, também, olhar para o espaço como essa incubadora do envelhecimento”.

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Minicérebros

Moutri é pioneiro na criação de organoides cerebrais, mais conhecidos como minicérebros, desenvolvidos em laboratório em ambiente de microgravidade.

As estruturas dos minicérebros são derivadas de células-troncos que se autoformam e apresentam algumas características semelhantes às observadas no cérebro humano em formação.

Os experimentos com minicérebros podem revelar o tempo e a intensidade do cérebro humano em microgravidade, conhecimento necessário à Nasa no planejamento da exploração espacial embarcadas por astronautas.

Ao mesmo tempo, o neurocientista afirmou que os minicérebros contribuem com o conhecimento do funcionamento do cérebro humano e, também, as possibilidades de tratamento de transtornos do espectro autista e doenças como o Alzheimer.

Foto: David Paul Morris/cedida em cortesia ao BNC Amazonas