Mestra indígena aponta importância geológica dos sítios naturais

Wisu Dessana, primeira mestra indígena em geologia do Brasil, destaca em exposição em Manaus a importância sagrada e científica dos sítios naturais protegidos pelos povos indígenas.

Wilson Nogueira, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 03/06/2025 às 14:12 | Atualizado em: 03/06/2025 às 15:24

A primeira indígena mestra em geologia do Brasil, Wisu Dessana (Sidnéia Meneses Basílio, de batismo cristão), afirmou, em Manaus, que se inclui entre as pessoas que atuam para demonstrar à sociedade dos brancos que as terras, águas, rochas e florestas, e os seres vivos e imateriais por elas acolhidos, não são meros materiais à espera de se tornarem produtos tecnológicos. 

“Para nós, indígenas, o nosso corpo faz parte do território. Então, se eu o desmarco, vou prejudicar o meu meio ambiente e a mim mesma. Não tem como separar o nosso corpo do território; se eu desmato o território, desmato também o meu corpo”.

Ela participa da exposição “Diálogos vivências sobre geologia no bem-estar da humanidade”, que começou no dia 29 de maio e se estenderá até o dia 13 deste mês, no Espaço Ambiental Amazônico (Ecam), no 3.º piso do Manauara Shopping.

O evento divulga a popularização e valorização do conhecimento geológico na Amazônia por meio do diálogo entre populações locais e os geocientistas.

O visitante, além das palestras, terá acesso a um acervo de rochas, minerais e fósseis.

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Geodiversidade

Wisu palestrou sobre a importância geológica dos sítios naturais sagrados, localizados em montanhas, rios, lagos etc., que formam a geodiversidade, fazem parte da cosmologia e da cosmovisão dos povos indígenas.

“Esses são locais onde os primeiros ancestrais criaram este planeta e transformaram o mundo como o vemos hoje”.

A importância da geologia, para Wisu, é identificar esses locais que povos indígenas compartilham com seres vivos e não vivos, para que sejam respeitados, preservados e conservados.

Os lugares sagrados, para a geóloga, não podem ser vistos apenas com um bem material e matéria-prima à disposição de grupos econômicos locais, nacionais e internacionais.

Ela lembra que as áreas mais preservadas do planeta são as protegidas por povos originários.

“Os povos indígenas manejam a terra e a floresta há milênios, com o uso de tecnologias que respeitam o curso da natureza. É por isso que ainda temos terras preservadas”.

Demanda energética

Wisu acentua que os povos indígenas vivem momentos de apreensão porque o mundo precisa de energia e parte da sua fonte está em ou afeta terras indígenas, como rios alvos da construção de hidrelétricas.

Não menos cobiçados são os minerais estratégicos para a indústria pesada, como ouro, bauxita, petróleo e gás natural, também encontrados em terras indígenas.

“Há territórios indígenas que são protegidos por lei, mas os que não possuem essa salvaguarda correm sério risco”.

Contribuição da ciência

A contribuição da geologia, segundo Wisu, para contrapor às ameaças às terras indígenas e ao planeta pela economia extrativista é a de chamar a atenção dos brancos para uma nova percepção da relação entre natureza e seres humanos.

“Quando o branco descobre uma jazida ele só pensa no lucro que terá ao explorá-la. Para o indígena, a lógica é outra. Ali está a sua morada, ele precisa desse espaço para viver e se proteger”.

Ao mesmo tempo, ela disse que a percepção dos povos indígenas possibilita aos estados e empresas planejarem estratégias de geoconservação, para proteger os lugares sagrados que, também, são partes da história de todos os seres humanos.

Foto: Wilson Nogueira/especial para o BNC Amazonas