Analistas veem opositores da proteção ambiental tentando silenciar Marina
Ataques à ministra no Senado refletem reação à agenda ambiental e machismo estrutural, dizem especialistas.

Adrissia Pinheiro
Publicado em: 29/05/2025 às 11:25 | Atualizado em: 29/05/2025 às 11:31
A tentativa de calar Marina Silva na Comissão de Infraestrutura do Senado, nesta terça-feira (28), expôs claramente o confronto entre a agenda ambiental e os interesses de setores conservadores. De acordo com especialistas ouvidas pela Agência Brasil, o episódio reflete, sobretudo, a naturalização da violência política de gênero e a resistência à regulação ambiental.
Durante a audiência, por exemplo, o senador Marcos Rogério (PL-RO) mandou Marina se colocar “no seu lugar” após interrompê-la. Em seguida, Plínio Valério (PSDB-AM) afirmou que não a respeita como ministra. Como resultado, o clima foi de hostilidade aberta.
Mulher fora do lugar
Segundo a cientista política Flávia Biroli, da Universidade de Brasília (UnB), Marina encarna uma agenda indesejada para setores que veem o meio ambiente apenas como fonte de lucro.
Por outro lado, Michelle Fernandez, também da UnB, apontou a violência política de gênero no episódio: “Se fosse um homem naquele lugar, isso aconteceria?”. Em sua análise, Marina foi tratada como se estivesse fora do lugar.
Além disso, a professora destacou que, mesmo com uma trajetória extensa — como ex-senadora, deputada e candidata à presidência —, Marina ainda enfrenta resistência por ser mulher e negra em espaços de poder.
Palavras como agressão
A fala que levou a ministra a deixar a sessão partiu de Plínio Valério: “Não a respeito como ministra”. Em outro episódio, ele disse ter vontade de “enforcar” Marina.
Para Teresa Marques, professora de história na UnB, isso representa um colapso da compostura parlamentar. “Negar o direito de expressão é negar o direito de existir”, afirmou.
Ela também acredita que a condição física e social de Marina estimula os ataques.
Falta de reação imediata
Durante o embate, apenas Eliziane Gama (PSD-MA) defendeu Marina em tempo real. Senadores da base do governo, como Jaques Wagner (PT-BA), só se manifestaram depois, por nota.
Rogério Carvalho (PT-SE), líder do partido, protestou após Plínio Valério dizer que Marina não merecia respeito.
No entanto, para Michelle Fernandez, a defesa deveria ter sido mais firme e imediata.
Contexto hostil
O ataque a Marina ocorre uma semana após o Senado aprovar um projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental, criticado como o maior retrocesso ambiental em 40 anos.
A proposta tem apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), defensor da exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.
O Brasil foi o segundo país que mais matou defensores ambientais em 2022. O cenário, para especialistas, mostra o quanto a pauta ambiental ainda gera enfrentamento no país.
Saiba mais em Agência Brasil.
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Foto: Lula Marques/Agência Brasil