A verdade também sofre na BR-319

Ninguém, verdadeiramente, quer solucionar o problema que impõe drama, dor, sacrifício para milhares de moradores da região

Trecho do meio da BR-319 entra em plano para asfaltamento até 2027

Neuton Corrêa, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 20/05/2025 às 06:56 | Atualizado em: 20/05/2025 às 06:56

Perto de completar meio século, mais da metade dele sem funcionar plenamente, a BR-319 sofre também de um grave problema: a falta de verdade.

Em seus 49 anos, desde sua inauguração, em 27 de março de 1976, a verdade ficou cheia de buracos, assim como o asfalto que há um dia lhe cobriu.

A mais recente corrosão nesse sentido ocorreu há dois dias. No domingo que passou, um grupo de políticos, liderado pelo senador Eduardo Braga (MDB), atravessou o encontro das águas para visitar a rodovia.

Eles foram ao rio Curuçá. Ali, nas eleições de 2022, a ponte de concreto desabou. A ponte era pequena. Isso, talvez, alimentou a esperança que, logo, logo, fosse reconstruída, mas quatros anos se passaram, dois deles com longo período sol e rio seco, e nada. Não ficou pronta, apesar das verdades que se fizeram promessas.

Pois, no domingo, quem viu a pirotecnia que os políticos fizeram, sobretudo os desavisados, puderam realimentar a esperança de que a BR-319 voltará funcionar como nas décadas de 70 e 80.

É que eles falaram em inauguração de três pontes, em meses distintos. Falaram, na conhecidíssima linguagem fonética mundial, de asfaltamento de “trecho alfa”, de “trecho beta”, e de “trecho Charlie.

O que eles não falaram é que a BR-319 não vai ficar pronta no ano que vem. Para lembrar, ano que vem é 2026, ano eleitoral, ano de eleições, ano de campanha política.

A rodovia não ficará pronta porque o trecho do meio, trecho Miki (Maik), entre os quilômetros 250 e 655, destruído, não vai ser asfaltado. E não vai porque a Justiça Federal impede, porque as controvérsias ainda não foram sanadas.

O mundo pressiona o Brasil a manter a BR-319 do jeito que está. O Brasil não quer perder protagonismo ambiental.

Enfim, ninguém, verdadeiramente, quer solucionar o problema que impõe drama, dor, sacrifício para milhares de moradores da região.

Ainda que estivessem autorizados para ser repavimentados, os 405 quilômetros do trecho do meio não ficariam prontos até outubro que vem.

Serão necessárias mais eleições. Enquanto isso, a verdade continuará sofrendo, como sofre o povo que depende da BR-319.

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Foto: divulgação/Movimento BR-319