Senado vota dia 20 projeto que permitirá asfaltar BR-319
O projeto da lei geral do licenciamento ambiental, batizado pelos ambientalistas como “a mãe de todas as boiadas”, será votado em duas comissões

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 16/05/2025 às 18:49 | Atualizado em: 16/05/2025 às 18:49
As comissões da Agricultura e do Meio Ambiente do Senado farão votação conjunta na próxima terça-feira (20) do projeto da lei geral do licenciamento ambiental (PL 2.159/2021). Caso seja aprovada, a matéria irá a plenário.
Um relatório único foi construído em conjunto pelos relatores na Agricultura e no Meio Ambiente, senadores Tereza Cristina (PP-MS) e Confúcio Moura (MDB-RO), respectivamente.
A proposta, batizada pelos ambientalista como “a mãe de todas as boiadas”, viabiliza, por exemplo, o asfaltamento da BR-319 sem a necessidade de licença ambiental.
Em nota técnica de 119 páginas, divulgada nesta sexta-feira (16), o Observatório do Clima reconhece que um dos dispositivos no texto facilita o asfaltamento da rodovia.
“A redação desse dispositivo é muito preocupante. Muitos empreendimentos de grande impacto podem estar caracterizados como ‘melhoramento da infraestrutura em instalações preexistentes’, inclusive o asfaltamento da BR-319, que gerará um desmatamento sem precedentes no Estado do Amazonas”, diz um trecho da nota.
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De acordo com o documento, na forma como está redigido, o dispositivo configura inconstitucionalidade diante do artigo 225 da Constituição, que exige estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de atividade potencialmente causadora de degradação do meio ambiente.
Os ambientalistas dizem que a supressão pelo Senado, em relação ao texto aprovado na Câmara, da referência às dragagens, que necessitam de licença, não resolve os problemas do dispositivo.
Dessa forma, eles defendem a supressão dele. “Esses empreendimentos podem ser licenciados pelos municípios em procedimento simplificado”, diz o texto.
“Em vez de racionalizar processos e estabelecer padrões mínimos que possam ser aplicados em todo o país, os parlamentares optaram por privilegiar o autolicenciamento e as isenções de licença”, acusa Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima.
Para ela, a grande maioria dos processos passará a ocorrer na modalidade por adesão e compromisso.
“Um simples apertar de botão pelo empreendedor gerará uma licença. É uma irresponsabilidade, que impulsiona a judicialização. Ninguém ganha, nem mesmo aqueles que defendem a aprovação do projeto”, advertiu.
Projeto
“Ao priorizar de forma irresponsável a isenção de licenças e o autolicenciamento, a proposta tem potencial de agravar a degradação ambiental, representando grave ameaça a direitos humanos fundamentais”, diz outro trecho do documento sobre a proposta.
Para os ambientalistas, a flexibilização dos estudos, das condicionantes ambientais e do monitoramento pode resultar em desastres e riscos à saúde e à vida da população, com a contaminação do ar, dos solos e dos recursos hídricos, além do deslocamento de comunidades e da desestruturação de meios de vida e relações culturais.
“Também omite a crise climática: não há sequer uma menção em seu conteúdo ao clima. O licenciamento simplesmente irá ignorar esse tema”, aponta o documento.
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado