‘Memória urbana de Manaus foi devastada’, diz Milton Hatoum
Em entrevista, escritor relembra os tempos em que Manaus tinha harmonia com a natureza e urbanismo mais coerente.

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 14/05/2025 às 16:55 | Atualizado em: 14/05/2025 às 16:55
Em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, que tem um canal no YouTube, o escritor amazonense Milton Hatoum diz que, depois do ciclo da borracha até os anos de 1960, Manaus passou a ser exemplo de cidade mal planejada.
“Manaus é um caso realmente, vamos dizer assim, exemplar, de como as cidades brasileiras, as capitais e outras cidades foram mal planejadas, foram depredadas. Os seus centros históricos, ou seja, a memória urbana foi totalmente devastada ou parcialmente devastada”, disse o escritor.
O autor dos romances “Relato de um Certo Oriente”, “Dois Irmãos” e “Cinzas do Norte”, todos ambientados na capital amazonense, diz que a cidade foi concebida durante o ciclo da borracha para ser ambiente de equilíbrio com o meio ambiente.
“A grosso modo entre 1880 e 1910 o pensamento urbano daquela época era muito mais coerente com a vida das pessoas do que aconteceu depois. Porque a cidade até os anos de 1960 tinha uma certa harmonia com a natureza”, observou.
Hatoum lembrou dos tempos agradáveis na capital: “Qual era o lazer dos manauaras? Era ir tomar banho, nadar nos igarapés que ficavam a 15 ou 20 minutos de qualquer lugar do centro de Manaus. Água limpa, cristalina, a floresta intacta”.
“Manaus e Belém, e por ironia Belém que é a sede da COP 30, são as capitais com maior carência de infraestrutura urbana”, afirmou.
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Saneamento
Ele também destacou a precária situação da capital que no Ranking de Saneamento 2024, divulgado pelo Instituto Trata Brasil (ITB), está entre os 20 piores índices do país.
“A metade de Manaus não tem acesso a esgoto, metade da população. Quando se fala na Amazônia, na floresta, na questão indígena, é importantíssimo, é fundamental. Mas a gente tem que ver também a questão urbana, porque um milhão de pessoas em Manaus vivem mal, vivem muito mal, a metade da população. Isso não é um desastre socioambiental? Acho que sim”, lamentou.
Veja a entrevista na íntegra:
Foto: reprodução/vídeo