Fraude no INSS: estava tão fácil que 1,5 mil aposentados eram filiados por hora

CGU revelou atuação de entidade ligada à autarquia

Mariane Veiga

Publicado em: 02/05/2025 às 10:10 | Atualizado em: 02/05/2025 às 10:10

Um relatório inédito da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que uma das entidades ligadas ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) chegou a registrar mais de 250 mil filiações em um mês, uma média de 1,5 mil por hora nos dias úteis.

A Polícia Federal investiga um golpe de R$ 6,3 bilhões em aposentados e pensionistas do INSS. Os repasses vão de 2019, ainda no governo Jair Bolsonaro (PL), até o governo atual, do presidente Lula da Silva (PT).

Conforme a CGU, graves falhas nos controles do INSS permitiram que entidades filiassem milhares de aposentados de forma suspeita. 

Dessa maneira, outras nove entidades também apresentaram números elevados, com pelo menos 124 mil filiações mensais entre 2023 e 2024.

A auditoria analisou documentos de 29 entidades com acordo de desconto em folha e descobriu que apenas 29% dos beneficiários apresentavam documentação completa.

Leia mais

CGU diz que irregularidades do INSS são entre 2019 e 2024

Os demais estavam com dados incompletos ou não enviados, evidenciando fragilidade nos mecanismos de verificação do INSS, baseados majoritariamente na presunção de boa-fé.

Mesmo após alertas da CGU, o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, manteve o sistema que facilitava os descontos até janeiro de 2025.

Em março de 2024, o INSS determinou o uso de assinatura eletrônica com biometria para novos descontos, mas, em junho, aprovou uma solução transitória, uma “biometria paralela” feita pelas próprias entidades, apenas com foto dos beneficiários.

Com a adoção desse modelo, o número de descontos subiu de menos de 10 mil para mais de 780 mil em um mês.

Apesar das advertências da CGU e da disponibilidade do sistema oficial de biometria da Dataprev em setembro, o INSS prorrogou o uso da solução alternativa até o fim de janeiro de 2025.

Leia mais no G1.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil