Câmara ensaia aprovar projeto de anistia a golpistas
Proposta avança com apoio de aliados do governo, mesmo sob críticas de que beneficiaria articuladores do 8 de janeiro.

Adrissia Pinheiro
Publicado em: 14/04/2025 às 17:08 | Atualizado em: 14/04/2025 às 21:54
A proposta de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro voltou ao centro do debate político. Nesse contexto, recebeu o aval significativo de deputados de partidos que integram a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, o requerimento de urgência para a tramitação acelerada do projeto reuniu 262 assinaturas — mais da metade delas de legendas que ocupam ministérios do atual governo.
União Brasil, PP, PSD, Republicanos e MDB apoiaram o pedido. União Brasil, cuja liderança na Câmara receberá o comando do Ministério das Comunicações, contribuiu com 40 das 59 assinaturas possíveis. Esses números mostram que nomes próximos ao Executivo, além da oposição bolsonarista, também apoiam a medida.
Enquanto isso, Sóstenes Cavalcante (PL-SP), aliado direto do ex-presidente Jair Bolsonaro e do pastor Silas Malafaia, conduz a articulação. O deputado chegou a mobilizar parlamentares nos corredores e aeroportos de Brasília em busca de assinaturas. Seu objetivo declarado é permitir que o projeto vá direto ao plenário, sem precisar passar pelas comissões temáticas da Casa.
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Por outro lado, o movimento ocorre mesmo com a rejeição majoritária da sociedade à proposta. Pesquisa Datafolha revela que 56% dos brasileiros são contra a anistia aos golpistas. Além disso, 52% dos entrevistados acreditam que Bolsonaro deveria ser preso. Esses dados indicam que, apesar da articulação institucional, o discurso da pacificação não convence grande parte da população.
Além disso, a pressa para votar o projeto contrasta com a lentidão da Câmara para avançar em temas como a reforma do Imposto de Renda, a PEC da Segurança Pública e medidas de resposta às tarifas impostas por Donald Trump. Essa seletividade no ritmo de trabalho legislativo levanta suspeitas sobre prioridades políticas e acordos informais.
Por outro lado, durante a mobilização pela anistia, 23 senadores solicitaram ao STF a visita ao general Braga Netto, detido na Vila Militar do Rio de Janeiro. O ministro Alexandre de Moraes autorizou a visita, mas eles não esclareceram publicamente o objetivo. Essa falta de clareza provocou críticas nas redes sociais e entre analistas. Para os opositores da proposta de anistia, essa articulação política intensifica o temor de esforços para proteger figuras centrais do 8 de janeiro.
Leia na íntegra na coluna de Alvaro Costa na Folha.
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados