Marco temporal: mundurucus fazem carta a caminhoneiros na BR-163 bloqueada

Protesto denuncia impactos do marco temporal e exige diálogo direto com o Supremo.

Adrissia Pinheiro

Publicado em: 06/04/2025 às 10:44 | Atualizado em: 06/04/2025 às 10:44

Há 11 dias, indígenas mundurucus mantêm bloqueio na BR-163, em Itaituba (PA), contra a lei 14.701, que oficializa o marco temporal. Nesta sexta-feira (4), eles entregaram uma carta aos caminhoneiros explicando os motivos da mobilização.

No documento, chamado Carta às comunidades e a todos que querem entender a nossa luta, o grupo denuncia os impactos sofridos em seus territórios. Entre eles, contaminação causada por garimpo ilegal, escassez de água, destruição das roças e insegurança alimentar. “Estamos vendo a fome chegar aos nossos mais velhos e às nossas crianças”, afirma o texto.

O bloqueio começou em 25 de março, um dia antes da audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) que discute uma alternativa ao marco temporal — proposta rejeitada por lideranças indígenas.

Hoje, cerca de 200 pessoas se revezam no bloqueio, que permite a passagem de ambulâncias, doentes e veículos pequenos.

Debate

Os mundurucus, por sua vez, exigem ser ouvidos diretamente pelo ministro Gilmar Mendes, idealizador da proposta substitutiva. O encontro com o magistrado está marcado para 8 de abril, às 17h30, com presença de representantes da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).

Além disso, a proposta debatida no STF prevê mineração em terras indígenas, uso da Polícia Militar em despejos e indenização a fazendeiros — pontos que geram forte resistência. Por outro lado, lideranças também criticam a composição da comissão, majoritariamente ligada ao setor ruralista.

Nesse contexto, o ponto escolhido para o protesto fica na junção da BR-163 com a Transamazônica (BR-230), rota usada por cerca de 1,8 mil caminhões por dia para escoar grãos do Mato Grosso aos portos no Tapajós. Ademais, indígenas denunciam que o avanço do agronegócio afeta a pesca, a locomoção e seus modos de vida.

Itaituba tem a maior área de garimpo do país, segundo o MapBiomas. Parte dessas atividades ocorre em território indígena ainda não demarcado. Além disso, o projeto da Ferrogrão, que pretende ampliar o escoamento de soja, também preocupa os mundurucus por seus impactos ambientais e sociais.

Leia na íntegra em Brasil de Fato.

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Foto: divulgação/Frank Akay Munduruku