Ufam recebe Davi Kopenawa em banca de mestrado de três ianomâmis
Evento histórico celebra a defesa de dissertações de três educadores ianomâmis e marca a inserção de saberes indígenas na pós-graduação.

Bruna Lira, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 01/04/2025 às 14:00 | Atualizado em: 01/04/2025 às 15:51
Pela primeira vez, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) receberá o ativista indígena, Davi Kopenawa como membro de banca de mestrado de três discentes indígenas ianomâmis.
Nos dias 22 e 23 de abril, o programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) realiza a ação acadêmica inédita “Davi Kopenawa: palavras de um xamã Yanomami”, no campus de Manaus. O evento marca um momento histórico.
Essa celebração acompanha as defesas de dissertação de três educadores indígenas ianomâmis: Odorico Xamatari Hayata Yanomami, Edinho Yanomami Yarimina Xamatari e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko.
Com isso, o programa de pós-graduação promove o evento com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam).
Além disso, essa ação é uma conquista inédita no ensino superior amazônico.
Será pela primeira vez que uma das maiores lideranças indígenas do país avaliará mestres ianomâmis dentro de uma universidade pública da Amazônia.
Educação e resistência cultural
Os três mestrandos vêm do alto rio Negro, mais especificamente de Santa Isabel do Rio Negro. Eles fazem parte da turma de 2023 do mestrado. Antes disso, concluíram a licenciatura indígena – políticas educacionais e desenvolvimento sustentável – yanomami.
Atualmente, atuam como professores do ensino básico. Ministram aulas em língua yanomami em seus respectivos Xapono, localizados no rio Marauiá, município de Santa Isabel do Rio Negro. Além de educadores, são também lideranças políticas em suas comunidades.
Durante o mestrado, cada um decidiu pesquisar suas próprias ancestralidades. A partir disso, construíram conhecimento com base em suas vivências, línguas e tradições. Como resultado, suas dissertações registram saberes tradicionais Yanomami. Ao mesmo tempo, fortalecem a transmissão entre gerações como forma de resistência cultural e afirmação identitária.
Reconhecimento do MEC
O ministro da Educação, Camilo Santana, durante visita a Manaus, destacou a importância da participação de Davi Kopenawa nas bancas de mestrado das universidades públicas, em entrevista excluisva ao BNC Amazonas:
“Primeiro que é uma honra ter o escritor e ativista indígena, Davi Kopenawa nos quadros das bancas das universidades, pela sua história, pelo seu compromisso com a nossa região, com a defesa da Amazônia e com a defesa dos povos indígenas.
O Brasil tem uma dívida histórica com os povos indígenas, e o Presidente Lula tem cada vez mais colocado a necessidade da inclusão desses jovens com a política de cotas, com o compromisso nosso esse ano.
A gente está anunciando, por exemplo, universalizar todas as bolsas de estudantes em universidades federais, indígenas e quilombolas vão ter uma bolsa do dia que entra até o dia que sai da universidade.”
Ufam e educação indígena
Também em entrevista exclusiva ao BNC Amazonas, o reitor da Universidade Federal do Amazonas, Sylvio Puga, reafirmou o compromisso da instituição com a educação indígena na Amazônia, sobretudo no estado do Amazonas. Ele também destacou o apoio aos discentes que estudam fora da sede:
“O Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura tem uma turma de mestrado em São Gabriel da Cachoeira, que conta com todo o nosso apoio, seja nas passagens aéreas, diárias para os professores, e dentre esse apoio, nós estaremos recebendo a visita de Davi Kopenawa, uma grande autoridade do mundo acadêmico, do mundo intelectual, ligado aos povos tradicionais e ele participará de três bancas do nosso mestrado.
Então é uma honra recebê-lo na nossa universidade”.
Para fortalecer essa política de apoio, a Ufam, em parceria com o Ministério da Educação, vai construir um novo campus universitário em São Gabriel da Cachoeira. Os trâmites para a obra já estão em andamento.
“Para o nosso programa que investimos para que São Gabriel da Cachoeira tivesse esse mestrado e foi muito importante para que, posteriormente, o governo federal, através do MEC, definisse, em São Gabriel da Cachoeira, conforme também o Ministro aqui citou na sua entrevista, que brevemente nós estaremos licitando as obras para esse campus.
Então, será uma festa acadêmica muito importante para a nossa universidade e para o nosso programa”.
Sobre Davi Kopenawa
Davi Kopenawa é xamã, escritor e líder político. Preside a Hutukara Associação Yanomami (HAY), entidade que representa a Terra Indígena Yanomami. É coautor do livro A Queda do Céu e de O Espírito da Floresta.
Ao longo de sua trajetória, ele tem denunciado os impactos do garimpo ilegal. Além disso, luta por melhores condições de vida para seu povo. Recebeu os títulos de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Sua presença na Ufam como integrante de três bancas de mestrado representam muito mais do que uma conquista pessoal. Trata-se de uma reconfiguração profunda nos papéis de produção e validação do saber na Amazônia.
Programação cultural e acadêmica
A programação começa no dia 22 de abril (terça-feira) às 14h. Primeiramente, haverá apresentações culturais de bois-bumbás e ciranda tradicional. Em seguida, acontece a mesa de abertura com autoridades acadêmicas da Ufam. Às 15h15, Davi Kopenawa fará uma fala pública, no auditório Rio Amazonas (FES), no setor norte da Ufam.
As defesas de dissertação ocorrem no dia 23 de abril (quarta-feira), às 10h, no auditório Rio Solimões da Ufam- setor norte. Ao longo do dia, Odorico, Edinho e Modesto apresentarão suas pesquisas. Por fim, os títulos das dissertações serão divulgados em breve na programação oficial do PPGSCA.
Mais informações e inscrições, acesse o site https://www.even3.com.br/acao-academica/
Foto: Agência Brasil