Indústria de ar-condicionado no Brasil enfrenta impasse crítico
Polo Industrial de Manaus é o maior produtor do país, segundo maior do mundo

Neuton Corrêa, do BNC Amazonas
Publicado em: 23/03/2025 às 11:03 | Atualizado em: 23/03/2025 às 12:08
A indústria de ar-condicionado do Polo Industrial de Manaus (PIM) tem apresentado um crescimento expressivo nos últimos anos. Em 2024, consolidou-se como a segunda maior produtora mundial de aparelhos. Fica atrás apenas da China.
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Contudo, essa trajetória ascendente pode ser comprometida a partir de 2025. Impasse técnico-regulatório ameaça a continuidade da produção.
O ponto crítico não está no Amazonas, mas a mais de 2.600 quilômetros daqui. Fica no Estado de São Paulo. Ele envolve uma exigência do Processo Produtivo Básico (PPB) — conjunto de etapas mínimas de industrialização que garante acesso a incentivos fiscais na Zona Franca de Manaus.
Monopólio do compressores
No caso dos aparelhos de ar-condicionado, o PPB determina que parte dos compressores — componente essencial para o funcionamento dos produtos — seja adquirida de fabricantes nacionais.
Ocorre que, atualmente, há apenas um fabricante nacional desse insumo. Sua unidade fabril está localizada em São Paulo.
Trava
De acordo com representantes da indústria, essa empresa não tem conseguido acompanhar o ritmo de expansão da demanda. Só em 2024, a produção de aparelhos de ar-condicionado cresceu quase 30%. Melhor: há expectativa de manutenção desse desempenho nos próximos anos.
Preocupação
A possível insuficiência no fornecimento de compressores nacionais preocupa o setor produtivo. Isso porque, caso não consiga cumprir as etapas previstas no PPB, a indústria corre o risco de perder os benefícios fiscais. Isso pode inviabilizar economicamente a produção em Manaus.
Na prática, mesmo com um mercado aquecido, as empresas poderiam ser forçadas a desacelerar ou até reduzir suas operações. Imediatamente, isso afetaria empregos, arrecadação e abastecimento do mercado.
PPB e esforço do fornecedor
Por outro lado, é importante destacar que o objetivo da exigência de conteúdo local no PPB é justamente fomentar o adensamento da cadeia produtiva e promover a indústria nacional de componentes. A fabricante brasileira de compressores, por sua vez, tem buscado desenvolver novos modelos e ampliar sua atuação.
Um evento agendado para o dia 25, no auditório da Suframa, deve anunciar o lançamento de um novo compressor. O evento vai sinalizar ao mercado esforços da fornecedora do insumo para acompanhar as transformações do setor.
No entanto, até o momento, não há confirmação oficial de que haverá ampliação da capacidade produtiva da empresa no curto prazo. No caso, sobretudo, para atender à crescente demanda já projetada para o segundo semestre.
O que diz a Eletros
A Eletros — entidade que representa os fabricantes de eletrodomésticos e aparelhos de ar-condicionado — afirma que tem mantido diálogo constante com o governo federal e reforçado, com dados atualizados, a necessidade de adequações temporárias ou transicionais nas regras do PPB.
“Vivemos um cenário de grande insegurança e imprevisibilidade. Ainda assim, estamos confiantes de que o GT-PPB, grupo interministerial responsável pela definição das regras do PPB, está atento à gravidade do problema e deverá adotar ajustes na norma que permitam à produção continuar crescendo com segurança para investidores, trabalhadores e para o próprio governo federal”, afirma a entidade.
Busca de soluções
A fornecedora nacional de compressores relata a interlocutores do governo e clientes que reconhece a importância estratégica da cadeia produtiva de ar-condicionado. Nesses contatos, reafirma seu compromisso com o desenvolvimento da indústria nacional e diz que segue dialogando para buscar soluções técnicas e operacionais que contribuam com a expansão sustentável do setor.
Insegurança
Independentemente dos posicionamentos, o fato é que o impasse regulatório tem gerado insegurança no ambiente de negócios. Esse clima pode impactar negativamente a confiança dos investidores e o desempenho da indústria nacional.
Caso a situação não seja resolvida com equilíbrio e agilidade, os efeitos podem ser sentidos por toda a cadeia: maior pressão sobre preços ao consumidor, riscos à manutenção de empregos e perdas na arrecadação pública — especialmente relevantes para a economia da Região Norte, que tem na Zona Franca de Manaus um de seus principais pilares de desenvolvimento.
Mais do que uma questão técnica, trata-se de uma decisão estratégica. Portanto, exige coordenação entre os setores público e privado, com foco na sustentabilidade do crescimento industrial, na proteção da produção nacional de componentes e na manutenção da competitividade do Brasil no mercado global de climatização.
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Foto: divulgação