Dos 23 denunciados, general pode ser único a ‘escapar’ de condenação
A avaliação sobre a possível chance de escapar de condenação no STF é da cúpula das Forças Armadas.

Ednilson Maciel, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 21/03/2025 às 16:36 | Atualizado em: 21/03/2025 às 16:37
Além de Bolsonaro, entre os 23 militares denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por participação na tentativa de impedir a posse do presidente Lula, apenas um deles tem chance de escapar da condenação no Supremo Tribunal Federal (STF).
Trata-se do general de duas estrelas Nilton Diniz Rodrigues, que à época dos fatos era assistente do então comandante do Exército, general Freire Gomes.
A avaliação sobre a possível chance de escapar de condenação é da cúpula das Forças Armadas. Como informa a Revista Sociedade Militar.
Segundo a publicação, a avaliação interna, feita por militares de alta patente em caráter reservado, é de que Nilton Diniz teve envolvimento periférico e circunstancial com a trama golpista que culminou na invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
De acordo com essa leitura, o envolvimento do general na investigação é por sua posição hierárquica. É que ele era próximo ao comando, e não por ações diretas ou lideranças na articulação.
Conforme a denúncia, o nome de Nilton aparece em nove menções, todas ligadas a uma reunião que discutiu a redação da chamada “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”.
Dessa maneira, o documento, compartilhado em grupos de WhatsApp, buscava pressionar o comandante do Exército a apoiar ações golpistas.
Nesse sentido, a PGR incluiu Nilton Diniz Rodrigues no chamado “núcleo 3” da suposta organização golpista.
Esse grupo é composto por um policial federal e militares da ativa e da reserva, entre eles os chamados “kids pretos”, acusados de tramar o sequestro e até a execução de autoridades públicas.
O julgamento da denúncia contra esse núcleo está previsto para ocorrer entre os dias 8 e 9 de abril na 1ª Turma do STF.
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Citado
Ainda segundo a publicação, em mensagens entre os coronéis Bernardo Romão Corrêa Netto e Fabrício Moreira de Bastos, cita-se Nilton como figura de apoio para organizar uma reunião em Brasília.
Com isso, o objetivo era reunir militares das Forças Especiais para debater como influenciar seus superiores. A reunião teria ocorrido em 28 de novembro de 2022, em um salão de festas na Asa Norte, em Brasília.
Desse modo, além de Corrêa Netto e Fabrício Bastos, o então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, também tomou conhecimento sobre o encontro.
Portanto, a investigação aponta que os diálogos tinham como objetivo pressionar os comandantes do Exército a aderirem ao plano de ruptura institucional.
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Lista dos militares denunciados
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- Ailton Gonçalves Moraes Barros: ex-candidato a deputado estadual pelo PL no Rio de Janeiro em 2022 e major reformado do Exército. Durante a campanha eleitoral de 2022, Barros se intitulava como o “01 de Jair Messias Bolsonaro”. Foi preso na operação que apurava as fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente.
- Almir Garnier: almirante de esquadra que comandou a Marinha no governo de Bolsonaro. Foi um dos signatários da nota em defesa dos acampamentos em frente a quarteis do Exército depois da derrota de Bolsonaro nas eleições. Foi citado na delação premiada de Mauro Cid como tendo disposição para participar de um golpe de Estado.
- Angelo Martins Denicoli: major da reserva do Exército. Durante o governo Bolsonaro, foi nomeado diretor de monitoramento e avaliação do Sistema Único de Saúde (SUS), quando publicou informações falsas sobre o uso do medicamento hidroxicloroquina para o tratamento de Covid-19. Foi alvo da operação Tempus Veritatis, que apurava uma suposta tentativa de golpe por parte de Bolsonaro e de seus aliados.
- Augusto Heleno: o general foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Jair Bolsonaro. Foi capitão do Exército brasileiro durante a ditadura militar e já defendeu o golpe de 1964 publicamente. O grupo que organizava uma trama golpista pretendia criar um “gabinete de gestão de crise” comandado por Heleno.
- Corrêa Netto: coronel preso na operação Tempus Veritatis, da PF. É acusado de integrar um grupo que incitava militares a aderirem a um plano de intervenção militar para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Obteve liberdade provisória depois de depor sobre um suposto plano de golpe de Estado e colaborar com a investigação.
- Cleverson Ney: coronel da reserva e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres. Também foi alvo da operação Tempus Veritatis.
- Estevam Theophilo: general e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres. Também cabia a ele o comando do Comando de Operações Especiais, conhecidos como “kids pretos”. O grupo foi alvo de uma nova operação da PF por um plano golpista que pretendia matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O general foi alvo da operação Tempus Veritatis. É suspeito de oferecer tropas a Bolsonaro em apoio a um golpe de Estado.
- Fabrício Moreira de Bastos: bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras. É coronel e foi adido do Exército em Tel Aviv, capital de Israel.
- Giancarlo Gomes Rodrigues: subtenente do Exército. Foi alvo da operação da PF que investigou o caso da “Abin paralela”. É suspeito de ter monitorado o advogado Roberto Bertholdo sem autorização judicial. Bertholdo seria próximo de Rodrigo Maia e Joice Hasselmann, adversários de Bolsonaro.
- Guilherme Marques de Almeida: o tenente-coronel comandou o comando do 1º Batalhão de Operações Psicológicas em Goiânia (GO). Foi alvo da operação Tempus Veritatis. Ficou conhecido depois de desmaiar e ter que ser socorrido depois de os agentes da Polícia Federal baterem à sua porta.
- Hélio Ferreira Lima: tenente-coronel da ativa do Exército. Ele foi exonerado do cargo de comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus, em fevereiro de 2024, após ter sido alvo de uma operação da PF que apurou reuniões de teor golpista entre militares após a derrota de Bolsonaro na eleição.
- Jair Messias Bolsonaro: ex-presidente da República e militar da reserva do Exército, segundo inquérito da Polícia Federal, o ex-chefe do Executivo tinha “pleno conhecimento” do plano golpista de matar o presidente Lula, o vice-presidente Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
- Marcelo Costa Câmara: coronel do Exército. Exerceu o cargo de assessor especial da Presidência da República, no gabinete pessoal de Jair Bolsonaro.
- Márcio Nunes de Resende Junior: coronel do Exército.
- Mário Fernandes: é general da reserva do Exército. Foi chefe substituto da Secretaria Geral da Presidência. Ele foi preso preventivamente, suspeito de arquitetar a morte do presidente Lula, do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Até março do ano passado, Fernandes estava lotado como assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ).
- Mauro Cesar Barbosa Cid: é tenente-coronel do Exército. Foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
- Nilton Diniz Rodrigues: é general do Exército. Na época da suposta tentativa de golpe, era o comandante do 1º Batalhão de Forças Especiais e do Comando de Operações Especiais, unidades militares localizadas em Goiânia (GO).
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira: é general da reserva. Comandou o Exército e foi ministro da Defesa na gestão de Jair Bolsonaro.
- Rafael Martins de Oliveira: tenente-coronel da ativa do Exército, ele era conhecido como “Joe” e também fazia parte do grupo de “kids pretos”, após as eleições de 2022. Ele é investigado por ter pedido orientações quanto aos locais para realização das manifestações após a vitória de Lula.
- Ronald Ferreira de Araújo Junior: também tenente-coronel do Exército é acusado de participar de discussões sobre minuta golpista
- Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros: é tenente-coronel do Exército. Segundo a PF, ele integrava o ‘núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral’.
- Reginaldo Vieira de Abreu: coronel da reserva do Exército, ocupou o cargo de chefe de gabinete de Mario Fernandes, então secretário-executivo da Secretária-geral da Presidência da República. Para os investigadores, Reginaldo ajudou Mário Fernandes a disseminar informações falsas sobre o sistema eletrônico de votação do Brasil para “impedir a posse do governo legitimamente eleito”. Além disso, ele foi acusado de ajudar Fernandes a “manipular” um relatório de fiscalização das Forças Armadas sobre as eleições de 2022.
- Rodrigo Bezerra Azevedo: participou do monitoramento ilegal da rotina de Alexandre de Moraes. “Os elementos de prova apresentados são convergentes para demonstrar a participação de Rodrigo Bezerra Azevedo na ação clandestina do dia 15/12/2022, que tinha o objetivo de prender/executar o ministro Alexandre de Moraes, integrando o núcleo operacional para cumprimento de medidas coercitivas”, concluiu a investigação.
- Walter Souza Braga Netto: é general da reserva do Exército. Foi ministro da Defesa e chefe da Casa Civil durante o governo de Jair Bolsonaro, de quem foi candidato a vice-presidente nas últimas eleições.
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