Plínio Valério é advertido pelo Senado por incitar violência à mulher
Alcolumbre classificou a fala do senador do Amazonas de “infeliz” e cobrou explicações. Ele não se arrepende da agressão

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 19/03/2025 às 20:52 | Atualizado em: 19/03/2025 às 21:02
A “brincadeira” do senador Plínio Valério (PSDB-AM), em dizer que teve vontade de enforcar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, custou-lhe caro.
Isso porque a lambança do senador tucano, proferida em evento da Fecomércio na última sexta-feira (14), chegou ao plenário do Senado Federal.
Nesta quarta-feira (19), o presidente da casa, Davi Alcolumbre (União-AP), pressionado pela base do governo e pela bancada feminina, fez uma advertência formal a Plínio Valério.
Mesmo considerando a manifestação infeliz e acreditando que o senador amazonense disse em tom de brincadeira, Alcolumbre disse que a fala de Plínio é como um combustível para casos de violência em um país já polarizado.
“Uma fala de um senador da República, mesmo que de brincadeira ou com tom de brincadeira, agride, infelizmente, o que nós estamos querendo para o Brasil. Estamos vivendo em um país dividido e polarizado, o que está fazendo mal para as pessoas, e uma fala dessa só serve como combustível para essas agressões que estamos vendo nas famílias e na sociedade brasileira, onde todos acham que têm o direito de ofender e agredir uns aos outros” , declarou o presidente do Senado.
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Onda de ódio
Antes de Plínio subir à tribuna e dar suas explicações, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) disse que a onda de ódio contra as mulheres é inconcebível e não pode mais ser mais admitida.
“Se quer divergir das ideias, das discussões, dos projetos, que divirja; isso faz parte do processo democrático. Agora, ter falas que incitam, por exemplo, o ódio, a discórdia, é algo terrível e não se pode admitir. Com a devida vênia e respeito que tenho ao meu colega senador Plínio, e o grande respeito que tenho à senadora e nossa ministra Marina Silva, isso é inaceitável, isso é inadmissível”, declarou a senadora do Maranhão.
Também se manifestaram contra a “brincadeira” de enforcar Marina, as senadoras Teresa Leitão (PT-PE) e Leila Barros (PDT-DF).
Repúdio
Em nota, a procuradora Especial da Mulher do Senado, Zenaide Maia, declarou repúdio à atitude de Plínio Valério e sugeriu que o senador se desculpe publicamente. Zenaide disse ainda considerar “gravíssimo” ver um membro do Parlamento cometer um “explícito ato de violência de gênero contra uma mulher”.
“As credenciais da ministra Marina, autoridade mundial em sustentabilidade, defesa dos recursos naturais e mudanças climáticas, nem precisariam ser elencadas, porque toda violência contra toda mulher tem que ser evitada, combatida e, sim, punida. Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva. Se o senador agrediu uma ministra, agrediu também a todas nós parlamentares e a todas as brasileiras. Todas nós somos Marina”, afirma a nota.
Do mesmo modo, o senador Sérgio Petecão (PSD-AC) pediu respeito a Marina Silva, que é do mesmo estado. Disse que a ministra é conhecida nacional e internacionalmente, portanto, não merecia ser tratada desta forma.
Sem arrependimento
Visivelmente constrangido, o senador Plínio Valério, sentindo-se acuado tanto pela advertência de Davi Alcolumbre quanto pelas manifestações dos colegas senadores, argumentou que a fala sobre enforcar Marina Silva foi uma brincadeira e tirada de contexto.
Referindo-se a uma audiência da CPI das ONGs, em novembro de 2023.
Na ocasião, a ministra, segundo Plínio, foi tratada com “toda decência”. Contudo, o senador, que presidiu o colegiado, apontou que ficou irritado diante das negativas da ministra em liberar obras na BR-319, rodovia vital para o Amazonas.
“Por ser mulher, por ser ministra, por ser negra, por ser frágil, foi tratada com toda a delicadeza; ela sabe disso. Um ano se passou e eu fui receber uma medalha e, na brincadeira, em tom de brincadeira, eu falei, falando da BR-319, eu disse: “Imaginem o que é ficar com a Marina seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la”. Todo mundo riu, eu ri, brinquei. Foi brincadeira.
Sensibilidades
Para o senador, parlamentares ficaram mais sensibilizados com a fala dele sobre Marina do que com as mortes por covid-19 no Amazonas, devido à dificuldade de o oxigênio chegar às principais cidades do estado. Ele acrescentou que não se “excedeu”, mas “brincou fora de hora” e que “não está arrependido”, mas “não faria de novo”.
“Agora, o que me encanta é o Senado ficar sensibilizado com uma frase e não se sensibilizar com milhares de mortos e não me ajudarem a licenciar a BR-319. Eu não me excedi, eu brinquei talvez fora de hora, mas não me excedi. Se você perguntar: Você faria de novo?. Não. Mas está arrependido? Não, porque eu não ofendi. Eu passei seis horas e dez minutos tratando-a com decência, como merece toda mulher”, ressaltou.
Mulheres em casa
Plínio ainda afirmou que sempre votou e propôs projetos para melhorar a vida das mulheres e negou ser machista.
“Eu fiquei viúvo, casei de novo, tenho três filhas, uma enteada, seis netas, três irmãs. As mulheres que trabalham no meu gabinete estão aqui. Esse negócio de machista. Repito, na minha casa, com uma mulher, quatro filhas, seis netas e três irmãs, todas as mulheres aqui, nenhuma tem queixa. Eu não as trato mal, então isso para mim não pega para mim”, afirmou.
Desculpas
Enfim, todos os senadores que ocuparam a tribuna para falar do caso Plínio x Marina, pediram que o senador do Amazonas faça um pedido formal de desculpas à ministra.
Em resposta, o senador disse que Marina também deveria pedir desculpas a ele. Em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministra”, do CanalGov, nesta quarta-feira, Marina classificou a declaração de Plínio como clara incitação à violência contra a mulher e chamou o senador de “psicopata”.
“Ela me chamou de psicopata. Empatou. Não vou processá-la por isso — acrescentou o senador.
Defesa
Somente os senadores Márcio Bittar (União-AC) e Eduardo Girão (Novo-CE) saíram em defesa do senador Plínio Válério.
Márcio Bittar (União-AC), que foi relator da CPI, afirmou que o senador do Amazonas foi desrespeitado pela ministra na CPI. Eduardo Girão (Novo-CE) acrescentou que o senador sempre foi “uma pessoa muito equilibrada, serena e humanista”.
Embora estivessem no plenário, assistindo a toda confusão, os senadores do Amazonas Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM) não se pronunciaram nem a favor nem contra o colega de bancada Plínio Valério.
Foto: Andressa Anholete/Agência Senado