Um chamado à unidade na luta pelo Brasil e pelo Amazonas

Para o articulista, no Amazonas, o PT 'se ressente da falta de um projeto político construído coletivamente que una todas as correntes em torno de objetivos'. Leia no artigo de Marcelo Ramos

Um chamado à unidade na luta pelo Brasil e pelo Amazonas

Ednilson Maciel, por Marcelo Ramos*

Publicado em: 24/02/2025 às 12:25 | Atualizado em: 24/02/2025 às 15:57

No cenário nacional vivemos um ambiente contraditório. Um governo com resultados econômicos e sociais espetaculares (PIB, indústria, desemprego, fome) e uma narrativa avassaladora do mercado financeiro, da grande imprensa e da oposição propagando uma tragédia econômica com a base em dados do dólar, que já vem caindo, da inflação, que foi a menor desde o Plano Real no primeiro mês de 2025, e da relação dívida PIB, que exige atenção mas está longe de ser a tragédia que anunciam.

Nesse ambiente contraditório, o governo do presidente Lula não tem conseguido transformar em avaliação positiva os resultados econômicos e sociais do governo, o que exige um esforço maior de forma interna da militância e de ação dos parlamentos e militantes do partido na defesa do legado do nosso governo e combate a campanha de fake news da oposição.

No ambiente local, nosso partido se ressente da falta de um projeto político construído coletivamente que una todas as correntes em torno de objetivos, ainda que sem abrirem mão das suas diferenças o que é da essência do PT.

Na falta de um projeto político coletivo, vivemos crises sobre posicionamentos dos nossos parlamentares e lideranças sobre o Governo do Estado e a Prefeitura de Manaus. Mas fica a pergunta: como cobrar posicionamentos dos nossos parlamentares, dirigentes, líderes e militância, se nunca reunimos para avaliar nossa posição em relação ao governador e ao prefeito e nem mesmo temos um projeto político coletivo que nos una?

O resultado desse vazio de projeto fica latente nos nossos resultados eleitorais e na nossa participação nos movimentos sociais.

Em 2022, o presidente Lula sofreu uma esmagadora derrota eleitoral em Manaus, não fizemos o cociente de deputado federal e elegemos apenas um deputado estadual.

Em 2024, fizemos apenas 6% dos votos para a Prefeitura de Manaus e elegemos apenas um vereador em Manaus.

Nos movimentos sociais, em especial estudantil e sindical, nossa ação tem pouca relevância na influência sobre estudantes e trabalhadores.

Se olharmos para 2026 hoje, projetamos mais uma vez não fazer o cociente para deputado federal, dificuldades para fazer o cociente de deputado estadual e pouca articulação e autoridade partidária para compor e influenciar na chapa majoritária para governo e Senado, além do cenário seguir adverso para o presidente Lula em Manaus.

Diante desse quadro, podemos seguir nas brigas e disputas internas para, ao final, alguém ganhar a liderança de um partido sem nenhuma expressão politica, ou podemos, sem abrir mão das nossas diferenças, construir um plano estratégico coletivo para fortalecer o partido e nos unir em torno dele.

O PED é importante mas nada mudará se ele não vier acompanhado de um debate sobre um projeto de partido que nos una ao final, independente de quem vencer.

E é buscando mobilizar o partido em torno dessa segunda possibilidade que publico esse chamado para o debate interno.

Unir todos os quadros eleitorais progressistas no PT.

No atual cenário e levando em conta os resultados da eleição para vereador em 2024, os partidos do campo progressista não tem a menor possibilidade de montarem chapas para alcançar o cociente de deputado federal e para deputado estadual as chances são remotas.

Mesmo a Federação PT/PCdoB/PV hoje não faria o cociente de deputado federal.

Portanto, o momento é de atrair para a Federação PT/PCdoB/PV todas as lideranças progressistas com alguma viabilidade eleitoral.

Essa ação exige um esforço da direção e liderança do PT para identificar essas lideranças, dialogar e convencê-las da filiação ao partido.

Chapa de deputado federal

O desafio da direção do partido é identificar desde já ex-prefeitos, vereadores do interior, lideranças que já estão e as que podem se filiar ao partido e construir com elas um projeto político que passe pela disputa da eleição para deputado federal.

Só começando esse trabalho agora, teremos alguma chance de montar um chapa competitiva e retornar a cadeira do PT na Câmara dos Deputados.
Isso deve ser nossa prioridade.

Chapa de deputado estadual

Temos hoje dois deputados eleitos pela Federação (Sinésio Campos e Carlos Bessa) mas alguns quadros que disputaram a eleição para deputado estadual em 2022 já não estão mais nos partidos da Federação, não se dispõe a disputar a eleição ou perderam sua força eleitoral, diante da falta de um projeto político pós eleição.

Nossa chapa de vereadores em 2024 também não projetou muitas novas lideranças com densidade eleitoral.

Assim, é temerário acreditar que teremos uma chapa competitiva para eleger dois deputados estaduais do PT se não fizermos desde já o dever de casa de identificar e atrair lideranças com potencial eleitoral.

Participação na chapa majoritária

Mesmo com todas as dificuldades que apontamos até aqui o PT é o partido do Presidente da República, o partido com maior tempo de TV e não pode abrir mão de uma posição na chapa majoritária para o Governo.
Devemos trabalhar para unificar a base do presidente Lula com a garantia do PT na chapa majoritária.

Defesa do governo e campanha do presidente Lula

Nos últimos anos Manaus virou uma cidade com maioria bolsonarista e nós não fomos, até aqui, capazes de mudar essa realidade.

Defender o legado do presidente Lula para Manaus e para o Amazonas é base de uma recomposição de forças mas é necessário também revisitar nossos paradigmas e ajustar nossas formulações, em especial, para microempreendedores, mulheres, jovens estudantes e trabalhadores do PIM.

No campo das lutas sociais e do diálogo com a população precisamos repensar os movimentos sociais, hoje em profunda crise de representatividade, para reconecta-los com as bases e resgatar a capacidade de mobilização.

Precisamos também compreender as demandas e aspirações dos novos empreendedores (motoristas de aplicativos, motoboys…) que simbolizam uma nova forma de trabalho e reformular nosso pensamento sobre segurança pública, diante do avanço do crime organizado e do tráfico de drogas que já dominam parte do território no nosso Estado.

Há um desafio urgente de aprovar uma formulação política capaz de unir as várias tendências do partido, antes e após o PED.

Essa carta é um chamado para a unidade na luta.

Para um partido que respeita e entende suas tendências como um mecanismo de exercício da democracia interna mas é capaz de se unir em torno de um projeto pensando no melhor para o Amazonas e para o Brasil.

*O autor é advogado e militante do PT.

Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados