A era da idiotia do coach infantil

A Internet está infestada por uma nova praga social chamada de coach infantil. Trata-se de um verdadeiro circo de horrores.

A era da idiotia do coach infantil

Neuton Correa, por Aldenor Ferreira*

Publicado em: 22/02/2025 às 00:01 | Atualizado em: 22/02/2025 às 05:40

Com o advento das redes sociais no Brasil e no mundo, a idiotia passou a fazer parte da vida ativa das sociedades de forma pública. A democratização do acesso às plataformas digitais permitiu que todos pudessem expressar seus pensamentos e sentimentos de maneira livre.

Todavia, essa liberdade também permitiu uma verdadeira pandemia de discursos de ódio, charlatanismo, teorias da conspiração, preconceitos os mais diversos e, principalmente, de desinformação. E, como desgraça pouca é bobagem, a desinformação alcançou um público que outrora estava, de certa forma, blindado desse fenômeno: as crianças. 

Atualmente, a Internet está infestada por uma nova praga social chamada de coach infantil. Trata-se de um verdadeiro circo de horrores. Um perigo ao futuro da civilização, pois o discurso é sempre de negação da ciência, da importância dos estudos e, fundamentalmente, de negação das desigualdades sociais e suas causas. 

DNA do coach

Sou um atento observador e estudioso das redes sociais e afirmo, sem medo de errar e de cometer injustiças que, claramente, o fenômeno coach infantil traz consigo o DNA do preconceito, do sexismo, da aporofobia, da misoginia e da hegemonia dos discursos neoliberais. Estou tentando achar, ainda sem sucesso, alguma criança coach preta, pobre e da periferia. 

De todos os programas e podcasts que vi até agora, de todos os discursos que analisei, a impressão que dá é que se trata de filhos de gente rica ou de classe média. Não teria problema se fosse apenas isso; ocorre que em todos eles a negação e o desestímulo aos estudos é a tônica. Por outro lado, abundam discursos exaltando a meritocracia e o trabalho duro como forma de alcançar o sucesso (falácias neoliberais). 

Trata-se de um quadro tragicômico, pois são crianças que ainda não saíram do ensino fundamental afirmando categoricamente que estudos de filosofia, sociologia e história não servem para nada, que os conteúdos ensinados nas escolas não trarão benefício nenhum para elas, que o importante é empreender e duplicar ou triplicar seus investimentos, como se essa realidade fosse a de todas as crianças brasileiras. 

O lado sombrio disso tudo é que essa tragédia é incentivada por pais gananciosos e irresponsáveis, por uma legislação fraca e pela inércia do poder público que insiste em não regulamentar as redes sociais.

O problema das ações dos coachs infantis é a pedagogia do exemplo, um mau exemplo no caso. A criança pobre não tem meios materiais para empreender. Se parar de estudar por conta de campanhas anti escola e anti estudo será o fim dela mesma. 

Conclusão 

Confesso que seria lindo ver crianças na TV ou na Internet discutindo, com propriedade, temas relevantes para a sociedade nacional, como arte, ciência, cultura, economia, política, meio ambiente, tecnologia, saúde etc. Mas não é isso o que ocorre. Pelo contrário, a onda coach infantil vai exatamente na direção contrária. 

Nesse sentido, é lamentável que a idiotice dos adultos desinformados e maus-caracteres tenha alcançado de forma avassaladora o público infantil. Fica aqui o alerta aos pais, mães e responsáveis. Cuidado com o que a sua criança está vendo nas redes sociais, pois fora o perigo da pedofilia, das drogas e da violência, agora existe o coach mirim, um sujeito totalmente apolítico, amoral, negacionista e idiota.

*Sociólogo

Arte: Gilmal