Saterés querem Andirá/Marau sem madeireiros, traficantes e garimpeiros
Indígenas pedem apoio da Funai para impedir invasões e tráfico em suas terras. Falta de recursos dificulta fiscalização e ameaça comunidades.

Wilson Nogueira, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 20/02/2025 às 11:30 | Atualizado em: 20/02/2025 às 11:45
O povo indígena sateré-mawé pressiona a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para fortalecer e institucionalizar as “barreiras” de controle de acesso à terra indígena Andirá/Marau, na região hidrográfica do médio rio Amazonas.
Essa reserva abrange os rios Andirá, Marau e Uaicurapá, nos municípios de Barreirinha, Maués e Parintins, no Amazonas. As cabeceiras desses rios estão nos municípios de Aveiro e Itaituba, no estado do Pará.
Mas, toda a logística e atendimento das comunidades indígenas lá existentes se dão pelo Amazonas.
Os indígenas temem que suas terras sejam invadidas por garimpeiros, madeireiros e traficantes de drogas.
O chefe da coordenação técnica local da Funai em Parintins, João Farias, disse que os saterés-mawés reivindicam equipamentos para três barreiras nos rios Andirá, Uaicurapá e Marau. Eles somam hoje ao menos 17 mil habitantes.
O que inviabiliza o projeto, no momento, segundo Farias, é a escassez de recursos no orçamento da Funai, que foi sucateada pelo governo Bolsonaro.
“A barreira precisa de flutuante, de pessoal qualificado em várias áreas, de voadeiras e alimentação”.
Enquanto isso, madeireiros intensificaram o avanço na direção da terra indígena, como os já vistos nos limites dos rios Mariacuã e Mamuru.
O primeiro flutuante, para a boca do Andirá, está sendo construído pelos próprios indígenas e deve ficar pronto dentro de três meses.
Farias, contudo, disse que o equipamento sozinho não resolve o problema. “São necessárias condições para que as equipes de controle trabalhem, tais como pessoal, lanchas, combustível e alimentação”.
Conforme o chefe da coordenação técnica local da Funai em Maués, Artur Sateré, “as barreiras foram adotadas em 2020 para conter a pandemia do covid-19 e deu certo”.
Ele disse que hoje as barreiras funcionam precariamente, sem apoio da Funai e de outros órgãos do poder público.
A proposta dos indígenas prevê flutuante na entrada da reserva, equipado com barcos ligeiros e com pessoal da Funai, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e forças policiais.
Atualmente, os saterés-mawés enfrentam problemas com consumo de álcool e drogais ilegais, como maconha, cocaína e sua pasta-base.
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‘Parentes’ cooptados
De acordo com Artur, o tráfico é feito por “parentes” que não vivem nas aldeias, mas conseguem driblar a fiscalização incipiente e arriscada.
As barreiras, para o coordenador, são uma forma de evitar o pior. “O avanço das drogas e o monitoramento da atividade garimpeira e madeireira na terra indígena. Sem fiscalização sistemática, fica difícil saber quem entra e sai”.
Nas aldeias dos rios Andirá e Uaicurapá, o problema imediato é a contenção das drogas, que já afetam as famílias há algum tempo.
“Os parentes que se drogam agridem os próprios pais, assim como há casos de suicídios”, afirmou o professor Josias Sateré.
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Tristes tempos
Os saterés-mawés sempre se confrontaram com as frentes extrativistas que almejam as riquezas de suas terras (madeira, minérios, óleos vegetais etc) desde os primeiros contatos com o colonizador, há mais de 400 anos.
Além da pressão sobre suas terras, têm agora pela frente o uso de álcool e drogas em suas comunidades.
“Os velhos estão tristes e desorientados a respeito de como lidar com isso”, disse Josias.
Os caciques entendem que a fiscalização compartilhada com o poder público pode impedir a entrada de produtos ilegais nas comunidades.
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Petróleo e dinamite
Na década de 80, a empresa francesa Elf Equitaine, licenciada pela Petrobrás para prospectar petróleo no rio Andirá, abandonou dezenas de dinamites na terra Sateré-Mawé.
Nessa ocasião, uma criança morreu por envenenamento ao manipular o material químico dos explosivos.
O caso repercutiu em nível internacional e a empresa francesa foi denunciada, julgada e condenada a pagar uma milionária indenização aos indígenas.
Foto: reprodução/redes sociais