O processo de eleições diretas do PT

Ao apostar no voto direto, o PT reafirma seu modelo único de democracia interna e participação popular, fortalecendo sua identidade como partido de massa.

Adrissia Pinheiro, por Lúcio Carril*

Publicado em: 20/02/2025 às 08:17 | Atualizado em: 20/02/2025 às 08:17

Sei que o PT dá um nó na cabeça de muita gente. É difícil compreender um partido tão diverso de ideias e gente com perfil diferenciado diante da história da esquerda no mundo, protagonizada pelos partidos comunistas com orientação dominada pelo pensamento marxista-leninista.

O PT é hoje o que, mais ou menos, preconizava o Partido Comunista Italiano, que defendia uma organização heterodoxa, com muito pluralismo de ideias e unidade de ação, o que ficou conhecido como unidade na diversidade.

O PCI logo foi acusado de querer criar um “eurocomunismo” ou um pensamento fora do dogmatismo dominante.

Décadas depois desse debate, aqui no Brasil, um país com pouca história democrática e vivendo sob uma ditadura, foi criado o Partido dos Trabalhadores, com uma estrela como símbolo e não uma foice e um martelo.

Passados 45 anos e o PT está governando o país pela quinta vez.

Pois não é que os eurocomunistas estavam certos, inclusive naquilo que defendiam como transição democrática e hegemonia da sociedade civil.

Estamos longe da hegemonia, mas o PT se tornou um dos maiores partidos de esquerda do mundo.

É um projeto político de partido que deu certo, com um vasto espectro de pensamento, inclusive ideológico, que inclui na sua composição segmentos sociais diferenciados, mas representativos da sociedade.

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O PT e o PED

É esse partido que dia 6 de julho deste ano realizará eleições diretas entre seus 1,7 milhão de filiados, para eleger todos seus dirigentes, em todo o país.

O PED (processo de eleições diretas) do PT foi aprovado no seu 2⁰ Congresso, em 1999, e em 2001 foi posto em prática, mobilizando centenas de milhares de filiados e militantes. Antes disso, as eleições eram colegiadas, em encontros com delegados eleitos em instâncias partidárias.

Em 2005, quando os opositores do PT diziam que o partido ia acabar, 315 mil filiados e filiadas votaram no PED. Em 2013, depois das manifestações de junho, que emparedaram o governo Dilma, foram 420 mil votantes.

O processo de eleições diretas do PT se tornou um projeto ousado de mobilização e de participação dos seus filiados e um modelo único no mundo, dentre os partidos de massa.

Representou o rompimento com o método tradicional de eleição e incorporou milhares de militantes e filiados na definição do partido como organização política estratégica.

Ainda tem falhas no processo, obviamente, mas sua implementação é fundamental para o crescimento e a consolidação do PT como partido de massa e alternativa de poder popular.

As eleições do partido, além de diretas, têm critérios de participação. Tem paridade de gênero, tem cotas e a disputa proporciona um momento de debate sobre concepções políticas.

O diretório nacional do PT tomou a decisão acertada em garantir eleições diretas em todos os níveis para o partido.

O PED tinha sofrido alteração há alguns anos e somente as direções municipais eram eleitas pelo voto direito dos seus filiados e filiadas. Dia 17 de fevereiro passado, por ampla maioria, os dirigentes aprovaram a volta do PED em seu formato original.

O PT dá um grande exemplo para o Brasil e para o mundo, ao valorizar o voto universal. O PED, por essência, é inovador e inclusivo.

*O autor é sociólogo.

Foto: divulgação