O fim do carnaval em fevereiro?
Em evento com líderes religiosos, o papa Francisco defendeu fixar data da Páscoa, o que impactaria diretamente o calendário do carnaval.

Adrissia Pinheiro, por Dassuem Nogueira*
Publicado em: 19/02/2025 às 12:28 | Atualizado em: 19/02/2025 às 12:28
O papa Francisco discursou em prol da fixação da data da Páscoa em evento que reuniu líderes das igrejas católicas romana e ortodoxa. A mudança impactaria diretamente o carnaval, que então poderá ocorrer sempre no mês de março. Será o fim do carnaval em fevereiro?
O discurso se deu no encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que ocorreu de 18 a 25 de janeiro, no Vaticano, em comemoração aos 1.700 anos do primeiro concílio ecumênico, que reuniu líderes da igreja evangélica luterana, católica ortodoxa e romana em Niceia, atual cidade de Iznik, na Turquia.
Em seu discurso, o papa Francisco destacou que, em 2025, as igrejas católicas comemorarão a Páscoa na mesma data. E ressaltou que esse é um sinal para que as igrejas unifiquem a data para reforçar esse símbolo da fé cristã que é o renascimento de Jesus.
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A igreja católica ortodoxa
A igreja católica ortodoxa, também conhecida como igreja católica do Oriente, e a romana se separaram em 1054 por meio do Cisma do Oriente, resultado de divergências dogmáticas e políticas.
Entre elas está que, para a igreja ortodoxa, foi o apóstolo André que fundou a igreja de Bizâncio (Constantinopla). E, para a igreja romana, quem funda a igreja é seu irmão, Pedro. Paulo é considerado o fundador da igreja ortodoxa grega.
Há ainda divergências relacionadas às diferenças culturais entre oriente (médio) e ocidente e o culto às imagens.
Mas, a separação também foi atravessada por disputas de interesses político na região do Mediterrâneo, entre os governos de Roma e Constantinopla, hoje Istambul, como as que resultaram na discordância sobre a supremacia papal.
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Calendário gregoriano e juliano
Para a igreja católica apostólica romana, a data da Páscoa é definida pela primeira lua cheia após o equinócio de primavera.
O carnaval é definido a partir disso, pois conta-se 47 dias antes da Páscoa. Sendo assim, seriam sete dias de carnaval e quarenta dias de quaresma.
Até hoje, a igreja ortodoxa segue o calendário juliano para marcar as datas fundacionais do catolicismo, como a Páscoa. Esse calendário era o que estava em vigência quando Jesus Cristo viveu e é praticado desde, aproximadamente, 45 a.C., como legado do antigo império romano para os ortodoxos.
Já a igreja católica apostólica romana adotou outro calendário no papado de Gregório 13, em 1582. O gregoriano, portanto, foi adotado para realinhar os fatos do calendário solar aos equinócios próprios das estações do ano.
Isso porque descobriu-se que a Terra não dá uma volta completa em torno do sol em exatos 365 dias, mas um pouquinho a mais, o que é corrigido com um dia a mais a cada quatro anos, quando ocorrem os anos bissextos.
Além disso, o calendário precisava corresponder ao das mudanças das estações para facilitar as celebrações religiosas. Afinal, o tempo não corresponde apenas aos fatos da natureza, mas a um tempo sagrado para as culturas.
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Uma decisão política
A proposta do papa Franscisco teria que ser levada a um novo concílio ecumênico entre igrejas, o que não ocorre desde 1965.
Contudo, a proposta não significa retomar o calendário juliano para definir as datas sagradas do catolicismo.
A fixação de uma data para a Páscoa tem o objetivo político claro de fortalecer as igrejas ortodoxas e produzir um senso de unidade entre os cristãos.
Assim como a Páscoa, o carnaval passaria a ter uma data fixa, podendo ocorrer sempre em março.
*A autora é antropóloga.
Foto: divulgação