Bolsonaro reúne com aliados sonhando na aprovação da anistia

Ex-presidente busca apoio no Congresso para aprovar anistia, minimiza denúncia da PGR e critica inelegibilidade e mobiliza aliados.

Diamantino Junior

Publicado em: 18/02/2025 às 15:09 | Atualizado em: 18/02/2025 às 15:10

Em meio à expectativa de uma possível denúncia por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro intensificou sua articulação política e procurou mostrar confiança na aprovação da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Durante um encontro com parlamentares da oposição no Senado nesta terça-feira (18/2), Bolsonaro afirmou que “já há maioria na Câmara para aprovar a medid”a”.

Apoio político e articulação com Kassab

Bolsonaro revelou que, há cerca de dez dias, conversou com Gilberto Kassab, presidente do PSD, e recebeu um sinal positivo para levar adiante a pauta da anistia. “Hoje, o que eu sinto conversando com parlamentares, como os do PSD, é que a maioria votaria favorável. Acho que na Câmara já tem quórum para aprovar a anistia”, declarou.

O ex-presidente também mencionou a recepção do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a familiares de presos pelos atos de 8 de janeiro.

Ele questionou a proporcionalidade das penas aplicadas, citando o caso de uma mulher com seis filhos cujo marido está foragido. “Essa punição é justa? Essa dosimetria é justa? 17 anos de cadeia?” indagou Bolsonaro.

Reação à denúncia da PGR

Sobre a iminente denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro minimizou as acusações e disse não se preocupar.

Ele ironizou a falta de provas concretas, como uma suposta minuta de golpe ou a delação de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. “Que golpe é esse que o Mossad não estava sabendo?”, disse, referindo-se ao serviço de inteligência israelense.

Inelegibilidade e críticas à Justiça Eleitoral

O ex-presidente também atacou a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o tornou inelegível por questionar a lisura do pleito de 2022.

Ele argumentou que a condenação foi motivada por eventos corriqueiros, como sua reunião com embaixadores e discursos no 7 de Setembro. “Eles querem negar a democracia e me proibir de disputar a eleição. Estão com medo do quê?”, questionou.

Bolsonaro citou pesquisas que o colocam à frente do presidente Lula nas intenções de voto para 2026, incluindo sua esposa, Michelle Bolsonaro.

“A pesquisa hoje diz que estou cinco pontos na frente do nove dedos (Lula), inclusive a dona Michelle na frente dele”, afirmou.

Encontro com aliados no Senado

O ex-presidente esteve no Senado para um almoço com senadores da oposição, entre eles Tereza Cristina (PP-MS), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Marcos Rogério (PL-RO), Eduardo Gomes (PL-TO), Rogério Marinho (PL-RN) e Hamilton Mourão (Republicanos-RS).

Marinho, líder da oposição no Senado, acompanhou Bolsonaro no trajeto da sede do PL até o Congresso.

Senadores aliados minimizaram a possibilidade de prisão do ex-presidente e ressaltaram a pesquisa encomendada pelo PL, que aponta Bolsonaro e seus aliados em vantagem numérica para 2026. Questionado sobre o risco de ser preso, Bolsonaro evitou responder.

Críticas à Lei da Ficha Limpa

Em outro momento, Bolsonaro voltou a criticar a Lei da Ficha Limpa, que impede candidaturas de condenados em segunda instância.

Ele, que já defendeu a legislação no passado, agora alega que a norma está sendo usada para favorecer a esquerda e prejudicar a direita.

Ele citou o ex-presidente americano Donald Trump como exemplo, argumentando que, se a lei existisse nos Estados Unidos, Trump estaria inelegível.

“A anistia é uma coisa e a Lei da Ficha Limpa é outra. A prioridade para mim é a anistia para essas pessoas que estão presas e são inocentes. Imagina vocês, a mãe acordar e dormir sem o filho do lado”, declarou Bolsonaro.

Mobilização contínua

Bolsonaro segue mobilizando sua base de apoio e participará de eventos políticos ao longo da semana, período em que deve ser formalizada a denúncia da PGR.

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Entre os compromissos previstos estão um jantar com influenciadores de direita na quarta-feira e um evento de comunicação organizado pelo PL entre quinta e sexta-feira. A estratégia parece clara: fortalecer sua articulação política e garantir o avanço da pauta da anistia no Congresso.

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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil