PF aponta falhas deliberadas da SSP de Brasília nos atos golpistas
O STF determinou novas investigações para aprofundar o caso.

Diamantino Junior
Publicado em: 31/01/2025 às 16:49 | Atualizado em: 31/01/2025 às 16:49
A Polícia Federal (PF) finalizou um relatório sigiloso que aponta falhas intencionais da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O documento, anexado às investigações sobre tentativa de golpe e interferência eleitoral, reforça a tese de que as invasões às sedes dos Três Poderes foram facilitadas por agentes da segurança pública local.
Conexão entre os atos de dezembro e janeiro
A PF identificou um padrão de radicalização bolsonarista que culminou nos ataques de 8 de janeiro. O relatório destaca que os atos violentos de 12 de dezembro de 2022, quando bolsonaristas tentaram invadir a sede da PF e incendiar veículos em Brasília, já contavam com omissões estratégicas da SSP/DF.
Na ocasião, a subsecretária Cíntia Queiroz forneceu informações falsas à Polícia Militar do DF (PMDF), desviando o efetivo policial para outro local e permitindo que os vândalos agissem sem resistência.
A mesma estratégia foi aplicada nos atos de janeiro, com a retenção de informações e a demora na resposta das forças de segurança.
Principais envolvidos e suas ações
A investigação da PF identificou os seguintes ex-integrantes da SSP/DF como responsáveis diretos pela facilitação dos ataques:
Anderson Torres (ex-secretário de Segurança Pública do DF): viajou para os EUA dias antes dos atos, mesmo tendo conhecimento prévio das ameaças. Documentos apreendidos sugerem omissão intencional.
Fernando Oliveira (ex-secretário-executivo da SSP/DF): falhou no repasse de informações estratégicas à PMDF, comprometendo a resposta da segurança pública.
Marília Alencar (ex-chefe de inteligência da SSP/DF): reteve relatórios que alertavam sobre a mobilização golpista e manteve contato com grupos bolsonaristas.
Cíntia Queiroz (ex-subsecretária da SSP/DF): além de manipular informações no episódio de dezembro, omitiu dados críticos sobre a mobilização dos manifestantes em janeiro.
Falhas foram parte de uma estratégia
O relatório da PF indica que as falhas da SSP/DF não foram meramente operacionais, mas sim um plano deliberado para facilitar os ataques com o mínimo de resistência policial. A demora na convocação da Força Nacional e a omissão de informações reforçam essa tese.
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Novas diligências e desdobramentos
Com a inclusão do relatório nas investigações do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR) avançam para identificar conexões entre os envolvidos e o governo Bolsonaro, além de possíveis articulações com setores das Forças Armadas.
Entre as novas medidas, estão:
Depoimentos adicionais de agentes de segurança e políticos;
Análise de comunicações internas da SSP/DF nos dias anteriores aos atos;
Investigação de possíveis financiadores dos ataques.
A investigação reforça que os eventos de 8 de janeiro não foram espontâneos, mas sim parte de uma tentativa coordenada de ruptura institucional. Novos indiciamentos são esperados nos próximos meses.
Foto: Joedson Alves/Agência Brasil