CNI: juros altos atrapalham investimento e geração de emprego
Entidade critica o aumento da Selic, destacando custos para a indústria e dívida pública, mas ignora a importância do controle da inflação.

Diamantino Junior
Publicado em: 29/01/2025 às 17:10 | Atualizado em: 29/01/2025 às 17:11
A postura da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em relação ao eventual aumento da taxa Selic pelo Copom reflete preocupações legítimas sobre os impactos da política monetária restritiva na atividade econômica, no investimento privado e na geração de empregos. No entanto, a análise da CNI, embora válida em alguns aspectos, pode ser considerada parcial ao focar excessivamente nos custos do aumento dos juros sem ponderar adequadamente os desafios macroeconômicos mais amplos que justificam a decisão do Banco Central.
A CNI critica o aumento da Selic como uma medida que desconsidera os esforços fiscais e a desaceleração da atividade econômica.
No entanto, é importante contextualizar que a política monetária do Banco Central tem como principal objetivo controlar a inflação e ancorar as expectativas inflacionárias.
Em um cenário de pressões inflacionárias persistentes, mesmo com a desaceleração fiscal observada no segundo semestre de 2024, o aumento da Selic pode ser visto como uma medida necessária para evitar a desancoragem das expectativas e garantir a estabilidade macroeconômica no médio e longo prazo.
A CNI menciona que os juros reais já estão em patamares elevados (cerca de 7%), o que é verdade, mas ignora que, em um ambiente de incerteza global e doméstica, a manutenção de juros altos pode ser crucial para evitar fuga de capitais e desvalorização cambial, que poderiam agravar ainda mais a inflação.
A entidade tem razão ao destacar que os juros elevados encarecem o crédito e desincentivam investimentos, especialmente em setores intensivos em capital, como a indústria.
A queda do Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) para 49,1 pontos em janeiro de 2025 é um indicador claro do desânimo do setor privado.
No entanto, é importante notar que a confiança dos empresários é afetada por múltiplos fatores, incluindo incertezas políticas, custos de insumos e a conjuntura global, e não apenas pela política monetária.
Em um cenário de inflação descontrolada, os custos para a indústria seriam ainda maiores, com impactos negativos sobre o poder de compra dos consumidores e os custos de produção.
A estabilidade de preços é um pré-requisito para um ambiente de negócios saudável e para a retomada sustentável dos investimentos.
Custos para a dívida pública
A CNI alerta, corretamente, que o aumento da Selic eleva o custo da dívida pública, com impactos estimados em R$ 50 bilhões a cada ponto percentual de alta.
Esse é um ponto relevante, pois um custo maior da dívida pode limitar o espaço fiscal para investimentos públicos e políticas sociais.
No entanto, a entidade não menciona que a credibilidade da política monetária e o controle da inflação são fundamentais para manter a confiança dos investidores e evitar um aumento ainda maior dos prêmios de risco, o que poderia elevar ainda mais os custos da dívida no longo prazo.
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Embora a CNI tenha razão em alertar para os efeitos negativos do aumento da Selic sobre a atividade econômica e o emprego, sua postura parece subestimar a importância do controle da inflação para a estabilidade macroeconômica.
Uma abordagem mais equilibrada poderia sugerir medidas complementares, como reformas estruturais para aumentar a produtividade da indústria e políticas fiscais mais eficientes para reduzir a dependência da política monetária como única âncora de estabilização.
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