Reação de Trump às iniciativas do Brics atinge o Brasil
Declarações de Trump sobre o Brics revelam postura unilateral, ameaças econômicas e desinformação.

Diamantino Junior
Publicado em: 21/01/2025 às 12:27 | Atualizado em: 21/01/2025 às 12:27
A recente declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as relações internacionais e o papel dos países emergentes, incluindo o Brasil e o bloco Brics, revela mais do que sua postura protecionista e unilateral. Ela expõe também preocupações estratégicas dos EUA com o equilíbrio de poder econômico global e um aparente despreparo nas análises sobre temas internacionais.
“Eles precisam de nós”: uma visão unilateral
Ao afirmar que os Estados Unidos “não precisam” do Brasil nem de outros países emergentes, Trump reforça uma narrativa de autossuficiência dos Estados Unidos que ignora a interdependência econômica global.
Essa postura, embora típica de sua retórica, contraria dados objetivos. Os EUA mantêm relações comerciais e estratégicas relevantes com os países do Brics, que juntos representam uma parcela significativa do PIB global e das cadeias de suprimentos essenciais.
A desvalorização explícita desses parceiros comerciais demonstra uma visão reducionista das relações multilaterais, que, se levada ao extremo, pode prejudicar tanto os Estados Unidos quanto seus aliados comerciais.
O Brics e a “ameaça” ao dólar
A oposição de Trump à proposta do Brics de reduzir a dependência do dólar em transações comerciais é compreensível do ponto de vista estratégico.
A centralidade do dólar é um dos pilares do poder econômico dos EUA. Contudo, a ameaça de impor tarifas de 100% contra os países do Brics mostra uma abordagem reativa, que privilegia o confronto ao diálogo.
A iniciativa do Brics, que busca fortalecer o uso de moedas locais, reflete a aspiração dos países emergentes de maior autonomia econômica.
Embora ainda em estágio inicial, essas medidas têm potencial para alterar a dinâmica do comércio internacional, principalmente se ganharem adesão de outras nações.
Falta de precisão e simbolismo político
Outro ponto relevante da declaração de Trump foi seu erro ao mencionar o número de países no Brics, que atualmente é composto por dez nações, não “uns seis ou sete” como afirmou.
Esse deslize pode parecer trivial, mas revela uma falha simbólica significativa, especialmente em um momento em que o Brasil ocupa a presidência do bloco e promove iniciativas de impacto global.
O descuido com dados básicos reforça uma percepção de desinformação sobre o Brics e enfraquece a imagem dos Estados Unidos como um líder global engajado e informado.
Impactos para o Brasil e o Brics
Na liderança do Brics, o Brasil enfrenta desafios para promover uma agenda econômica que contemple os interesses dos países membros e diminua a vulnerabilidade às oscilações do dólar.
As declarações de Trump podem ser interpretadas como uma tentativa de desestabilizar essa agenda, pressionando os países emergentes a manterem o status quo dominado pela moeda americana.
No entanto, as ameaças unilaterais e a retórica de confronto podem fortalecer a determinação dos países do Brics em buscar alternativas, estimulando a cooperação intra-bloco e a criação de mecanismos mais resilientes às pressões externas.
A avaliação das declarações de Trump, publicada pelo site O Cafezinho, levanta questões importantes sobre a postura unilateral e, por vezes, desconectada do presidente americano em relação aos blocos econômicos emergentes.
Se por um lado o protecionismo e a defesa do dólar refletem preocupações legítimas dos EUA, por outro, as ameaças de sanções e a desinformação minam o diálogo multilateral e expõem vulnerabilidades estratégicas.
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A reação do Brics e, em especial, do Brasil como líder do bloco será decisiva para determinar o futuro dessa dinâmica.
Mais do que resistir às ameaças, o sucesso das iniciativas do Brics dependerá de sua capacidade de implementar estratégias consistentes, construir alianças globais e demonstrar que um mundo multipolar é benéfico para todos.
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Foto: GPO/Fotos Públicas