Golpe: qual o papel do braço direito de Braga Netto na trama?

Coronel Flávio Peregrino é acusado de espalhar desinformação sobre generais que rejeitaram intentos golpistas.

Diamantino Junior

Publicado em: 24/12/2024 às 18:14 | Atualizado em: 24/12/2024 às 18:14

O coronel da reserva Flávio Botelho Peregrino, conhecido por sua proximidade com o general Walter Braga Netto, foi alvo de mandados de busca e apreensão durante a operação que resultou na prisão do ex-ministro.

Peregrino é apontado por membros da atual cúpula do Exército como um dos responsáveis por disseminar desinformação entre bolsonaristas, com o objetivo de difamar generais que rejeitaram movimentos golpistas para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A ligação influencer bolsonarista

Reservadamente, oficiais do Exército afirmam que Peregrino mantinha relação com o comentarista bolsonarista Paulo Figueiredo Filho, neto do último ditador militar, João Batista Figueiredo.

Figueiredo Filho utilizou a rádio Jovem Pan para divulgar desinformações, como a teoria dos “generais melancia” — uma crítica a militares que, segundo ele, ignoraram apelos por uma intervenção militar para manter Jair Bolsonaro no poder.

Os generais frequentemente atacados por Figueiredo incluíam Tomás Paiva (atual comandante do Exército), Richard Nunes (chefe do Estado-Maior do Exército), e outros membros do Alto Comando, como Valério Stumpf, Fernando Soares e Marco Antonio Freire Gomes.

Apesar das acusações, esses generais rejeitam a ideia de uma cisão no Alto Comando e reiteram que todos estavam comprometidos com o respeito à Constituição.

A delação de Mauro Cid e os bastidores militares

A delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, trouxe novos elementos à investigação.

Ele afirmou que pelo menos um membro do Alto Comando, o general Estevam Teophilo, teria se mostrado favorável a uma ruptura institucional. Teophilo nega as acusações.

No entanto, a falta de apoio externo, especialmente dos Estados Unidos, foi apontada como um fator que inviabilizou qualquer tentativa de golpe.

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Embora houvesse descontentamento no Alto Comando com a condução do processo eleitoral e com o resultado das urnas, a maioria dos generais considerou que esses fatores não justificavam uma ruptura democrática.

Defesa de Flávio Peregrino

Em sua defesa, Flávio Peregrino afirmou que as acusações são “levianas” e baseadas em fontes anônimas. Ele declarou nunca ter se comunicado com Paulo Figueiredo Filho, reforçando sua trajetória “exemplar e sem máculas” durante mais de 34 anos de serviço no Exército.

Peregrino, embora alvo de busca e apreensão, não foi indiciado ou formalmente incluído no inquérito das tramas golpistas.

Internamente, Peregrino sugere que o elo de Figueiredo Filho no governo passado seria o tenente-coronel Mauro Cid, e não ele próprio.

Repercussão e investigações em andamento

A investigação sobre a trama golpista segue como um tema sensível nas Forças Armadas e no cenário político.

A operação e as acusações evidenciam tensões internas no Exército e o uso de desinformação para fins políticos.

A busca por responsabilizações ainda está em andamento, enquanto os alvos mantêm suas defesas e trocam acusações.

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Foto: reprodução