Indústria de Manaus quer o comando do MDIC com saída de Alckmin

Ministério, hoje, está sob gestão do vice-presidente Geraldo Alckmin, que pode deixar a pasta para suceder José Múcio no Ministério da Defesa

Em sigilo, chineses sondam polo industrial da ZFM após tarifaço de Trump

Neuton Corrêa, do BNC Amazonas

Publicado em: 24/12/2024 às 06:00 | Atualizado em: 24/12/2024 às 06:00

Pela primeira vez, em quase 58 anos, a indústria da Zona Franca de Manaus (ZFM) muda sua postura em relação à sucessão no comando do Ministério do Desenvolmento Indústria e Comércio Exterior (MIDC).

Ao invés de esperar o próximo gestor da pasta federal, responsável pelo modelo, o Amazonas quer também indicar um nome do estado para a chefia do ministério.

É o que vozes importantes do Polo Industrial de Manaus acalentam há muito. Agora veem oportunidade de externar o desejo.

O contexto do pleito é a possível saída do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, do MDIC. Ele é um dos nomes que podem assumir o Ministério da Defesa com a saída de José Múcio. Ricardo Lewandowski (Justiça) e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, também são nomes que aparecem.

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Porque da reivindicação do cargo

Há um rosário de argumentos que fundamentam o pleito da indústria do Amazonas. Começa pelo passivo histórico.

Em quase 58 anos de existência, o Polo Industrial de Manaus sempre foi submetido a humores de gestores que nasceram em regiões industriais hostis à ZFM.

Foram vários com esse ânimo, mas o pior foi o ex-ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes. Filho do Rio de Janeiro, Guedes nunca escondeu o desejo de acabar com a indústria que ancora mais de 80% da economia do Amazonas e gera 50% da arrecação federal na Região Norte.

Paulo Guedes e Bolsonaro são apenas um ponto fora da curva de peserguição no alto risco a que se submete o modelo constantemente.

Mas, no geral, numa perspectiva histórica, a ZFM e o Norte acabam se tornando exemplo de preconceito com a região.

Brasil geocentrista

Basta ver que, em quase 60 anos de MDIC, há uma visão geocentrista que prevalece. Essa é a de que o Sudeste é o centro de tudo.

Veja que, em 57 anos de existência da indústria da ZFM, de 30 ministros nomeados. Desses, contanto com Paulo Guedes, 24 eram do Sudeste.

Por exemplo, Minas Gerais já mandou 11 ministros da aérea para a Esplanada; São Paulo, 8; Rio de Janeiro, 5. A região Sul já teve dois ministros na pasta. Foram um do Rio Grande do Sul e outro do Paraná.

O Nordeste já teve dois ministros, um da Bahia e outro de Pernambuco.

O Centro-Oeste também já teve ministro, de Brasília, no Governo Sarney.

Contudo, o Norte nunca sentou nessa cadeira, apesar de possuir uma indústria de preservação ambiental, o que o mais o mundo defende hoje.

Veja as tabelas abaixos

Lição técnica

O Amazonas, hoje, tem maturidade técnica e política para comandar um ministério dessa envergadura. Isso ficou claro nos dois anos de tramitação da reforma tributária no Congresso Nacional.

Grande contribuição dos avanços, preservando os interesses de todos os centros industriais do país, sem tirar nem pôr, partiu do Amazonas. Algumas dessas vozes apareceram na tribuna do Senado e da Câmara e outras nos bastidores.

Nomes

E quais nomes aparecem?

Existem feições, perfis técnicos que se descaram nos últimos anos no setor.

Técnicos

Marcelo Pereira – Quadro técnico nascido e criado na Zona Franca de Manaus. Funcionário de carreira da Suframa, chegou ao comando da superintendência da aurquia e hoje tem forte trânsito nos bastidores técnicos e políticos de Brasília.

Jorge Nascimento Júnior – Presidente da Eletros, entidade que representa marcas que somam cerca de 50% do faturamento e dos empregos do Polo Industrial de Manaus. Na CCJ do Senado, ele fez uma defesa da ZFM que ganhou repercussão em em todo país e influenciou na vitória do Amazonas na reforma tributária.

Políticos técnicos

Bosco Saraiva – Ex-deputado federal, operário de chão de fábrica do PIM, hoje superintendente da Suframa. É responsável por articulações e medidas que fazem a indústria do Amazonas bater recordes de faturamento e emprego. Isso em dois anos de seca severa que poderiam prejudicar a produção industrial do Estado.

Pauderney Avelino – Ex-deputado federal, suplente do cargo pelo União. Sempre foi considerado um especialista em Zona Franca de Manaus e macro economia. Foi ativo como deputado e operou fortemente nos bastidores da reforma, apesar de fora do cargo parlamentar.

Veja o tratamento do governo com as regiões


MinistroOrigemMistérioPosseExoneraçãoGoverno
1Paulo Egydio MartinsRio de Janeiro Militar, EmpresárioMinistério da Indústria e Comércio13/01/96615/03/1967Humberto Castelo Branco
2Edmundo de Macedo Soares e SilvaRio de Janeiro
15/03/ 196731/08/1969Costa e Silva
31/08/196930/10/1969Junta militar de 1969
3Fábio Riodi YassudaSão Paulo30/10/196923/02/1970Emílio Garrastazu Médici
4Pratini de MoraesPorto Alegre24/02/197015/031974
5Severo GomesSão Paulo15/03/19748/02/1977Ernesto Geisel
6Ângelo Calmon de SáSalvador09/02/197715/03/1979
7João Camilo PennaBelo Horizonte15/03/197921/08/1984João Figueiredo
8Murilo BadaróMinas Novas (MG)22/08/198415/03/1985
9Roberto Herbster GusmãoBelo Horizonte (MG)Ministério da Indústria e Comércio15/03/198514/02/ 1986José Sarney
10José Hugo Castelo BrancoBrasília14/02/ 19864/08/ 1988
11Luiz André Rico VicenteSantos Dumont (MG)5/08/198817/08/ 1988
12Roberto Cardoso AlvesSão Paulo17/08/ 198814/02/ 1989
Ministério do Desenvolvimento Industrial, Ciência e Tecnologia16/02/ 198914/03/ 1990
Extinto[3]12/04/ 199019/10/ 1992Fernando Collor
13José Eduardo de Andrade VieiraParanáMinistério da Indústria, do Comércio e do Turismo19/10/ 199223/12/ 1993Itamar Franco
14Ailton Barcelos FernandesRio de Janeiro23/12/ 199325/01/ 1994
15Élcio ÁlvaresUbá, Minas Gerais25/01/ 19941/02/1995
16Dorothea WerneckMinas Gerais1/01/ 199530/04/1996Fernando Henrique Cardoso
17Francisco DornellesBelo Horizonte6/05/ 199630/03/ 1998
18José Botafogo GonçalvesBelo Horizonte30/03/ 199831/12/ 1998
19Celso LaferSão PauloMinistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio1/01/e 199918/06/ 1999
20Clóvis CarvalhoSão PauloMinistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior19/07/ 19998/09/ 1999
21Alcides Lopes TápiasSão Paulo14/09/ 199931/07/ 2001
22Sérgio AmaralSão Paulo1 de agosto de 200131/12/ 2002
23Luiz Fernando FurlanConcórdia (SC)1/01/ 200329/03/ 2007Luiz Inácio Lula da Silva
24Miguel JorgePonte Nova (MG)29/03/ 200731/12/ 2010
25Fernando PimentelFernando Pimentel (MG)1/01/ 201114/02/ 2014Dilma Rousseff
26Mauro Borges LemosCássia (MG)14/02/ 20141/01/ 2015
27Armando MonteiroRecife (PE)1/01/ 201512 de maio de 2016
28Marcos PereiraLinhares (ES)Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços12/05/ 20163/01/ 2018Michel Temer
29Marcos Jorge de LimaRio de Janeiro4/01/ 20181/01/ 2019
Extinto1/01/ 201931/12/ 2022Jair Bolsonaro
30Geraldo AlckminSão PauloMinistério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços1/01/ 2023Luiz Inácio Lula da Silva[5]

Ministérios por estados

EstadoRegiãoNomeações 
Minas GeraisSudeste11 – nomeações 
São Paulo Sudeste8 – nomeações 
Rio de JaneiroSudeste4 – nomeações
Espírito SantoSudeste1 – nomeação
Rio Grande do SulSul1 – nomeação 
ParanáSul1- nomeação
BahiaNordeste1 – nomeação 
PernambucoNordeste1 – nomeação 
Distrito Federal Centro-Oeste1 – nomeação 
NenhumNorteZero
Na gestão Bolsonaro (2019-2022), o MIDIC foi extinto. Paulo Guedes, ministério da Economia, era o responsável pela indústria nacional. Nascido no Rio de Janeiro, seu plano principal para o Amazonas era acabar com a Zona Franca de Manaus.

Foto: Divulgação