Artigo científico sobre a cloroquina contra covid-19 é ‘despublicado’
O estudo havia sido publicado no International Journal of Antimicrobial Agents. No Brasil, Bolsonaro defendia o medicamento

Ednilson Maciel, da Redação dO BNC Amazonas
Publicado em: 19/12/2024 às 07:13 | Atualizado em: 19/12/2024 às 13:41
Um estudo publicado em 2020 que pautou o uso da hidroxicloroquina e azitromicina contra a covid-19 foi retirado do ar na terça-feira (17) devido a falhas científicas e questões éticas do artigo.
No Brasil, o então presidente Jair Bolsonaro defendia o medicamento e o seu Ministério da Saúde chegou a divulgar um protocolo sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina com azitromicina.
Então, três dos próprios autores da pesquisa levantaram preocupações quanto à metodologia e às conclusões do material. Como informa o Uol.
Dessa forma, a empresa Elsevier, especializada em conteúdo científico, fez uma retratação.
“Preocupações foram levantadas em relação a este artigo, principalmente relacionadas à adesão dos artigos às políticas de ética de publicação da Elsevier e à conduta apropriada de pesquisas envolvendo participantes humanos”, informou o aviso. O artigo havia sido publicado no International Journal of Antimicrobial Agents.
Tamanho da amostra e tempo de revisão geraram dúvidas. Apenas 36 pacientes participaram do estudo, sendo que ensaios clínicos bem conduzidos têm de centenas a milhares de voluntários na fase 3.
Ou seja, nesse período avalia a ação terapêutica, segurança, eficácia, riscos e benefícios do medicamento.
Segundo a publicação, já a revisão do artigo por pares ocorreu em um tempo “anormalmente” curto. O estudo foi submetido em 16 de março de 2020 e publicado quatro dias depois.
Nesse sentido, equipe que investigou o caso teve dúvidas sobre o recrutamento dos voluntários.
É que o time não conseguiu confirmar se os pesquisadores obtiveram aprovação ética para o estudo antes de recrutar os pacientes.
Da mesma forma, não pode estabelecer se os pacientes deram consentimento informado para serem tratados com o antibiótico azitromicina.
“O periódico concluiu que há causa razoável para concluir que a azitromicina não era considerada tratamento padrão no momento do estudo”, disse o aviso de retratação.
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Pacientes
Como resultado, problemas com pacientes podem ter distorcido os resultados a favor do medicamento.
Por exemplo, seis voluntários tratados com hidroxicloroquina foram retirados do estudo (um deles morreu e três foram transferidos para tratamento intensivo), o que potencialmente alterou os resultados.
Além disso, ensaios clínicos maiores e mais rigorosos realizados naquele ano mostraram que o medicamento não havia beneficiado as pessoas com covid-19.
Ainda conforme a informação, autores do estudo quiseram retirar seus nomes do artigo.
Assim, três dos autores da pesquisa entraram em contato com a revista científica para dizer que tinham preocupações sobre a apresentação e interpretação dos resultados.
Desse modo, também falaram que não desejam mais ver seus nomes associados à publicação.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil