Lula e o pecado dos cristãos

'Biblicamente, é proibido ao cristão desejar a morte de alguém, assim como é seu dever orar pelas autoridades constituídas'. Leia o artigo do sociólogo Aldenor Ferreira

Lula e o pecado dos cristãos

Ednilson Maciel, por Aldenor Ferreira*

Publicado em: 21/12/2024 às 04:20 | Atualizado em: 21/12/2024 às 04:20

Na semana em que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, teve que se submeter a duas cirurgias na cabeça, uma parte de pseudocristãos, católicos e evangélicos, comemorou a possibilidade de sua morte. 

Essa atitude deplorável, atroz e insana deve ser condenada em todos os níveis. Ela é vergonhosa para qualquer ser humano, independentemente de sua religião. Porém, quando se trata de cristianismo, católico ou evangélico, a situação se agrava. Por quê? Porque esses grupos têm, em seu livro sagrado, uma determinação expressa de orar pelas autoridades constituídas. 

Em 1 Timóteo 2:1-2, o apóstolo Paulo, sistematizador do Novo Testamento, escreve: “antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade”.

Veja, caro(a) leitor(a), o apóstolo chama a atenção para o propósito dessa ação. Orar pelas autoridades constituídas perpassa a necessidade de se alcançar uma vida pacífica, uma vida piedosa e digna. Isso está de acordo com outro texto do evangelho de Cristo. Em Mateus 5:5 Jesus declara: “bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”.

O que o Mestre ensina

A exortação do Mestre é para a mansidão, e não para o ódio, a vingança, a perseguição ou eliminação de seus inimigos. Até em relação a estes, Jesus orienta para a intercessão e o amor. Veja o que diz o texto de Mateus 5: 43-45: “vocês ouviram o que foi dito: ‘ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu digo: amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus”.

Isto posto, precisamos refletir acerca dos caminhos que alguns cristãos, católicos e evangélicos, tomaram fundamentalmente a partir de 2018. De lá para cá, eles passaram a amar certas autoridades e a odiar outras. Todavia, como demonstrei em alguns versículos – e há outros –, o ódio e o desrespeito pelas autoridades não fazem parte do evangelho. 

Ademais, a própria Bíblia, em Romanos 13:1-2, deixa bem claro de onde procedem as autoridades. Vejamos: “todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se opondo contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos”.

O texto de Romanos, escrito pelo apóstolo Paulo, não deixa dúvidas. Trata-se de uma sentença clara. Não há escapatória: aquele que se rebela contra a autoridade se rebela contra Deus. Como mencionado, desde 2018, é o que mais os pseudocristãos, católicos evangélicos, fazem: rebelar-se. Estão todos em pecado, portanto. 

Lula foi eleito democraticamente pela maioria dos(as) eleitores(as) brasileiros(as), assim como Bolsonaro também foi eleito democraticamente em 2018. Nesse contexto, a menos que os cristãos neguem o seu próprio livro, foi da vontade de Deus essas eleições. Do contrário, haveria enorme contradição entre Jesus e o seu livro. 

Nesse sentido, cabe aos cristãos, católicos e evangélicos, obedecerem a Jesus e aos seus mandamentos. Isso dá a eles a missão de orar pela pronta recuperação do presidente Lula, e não de desejar a sua morte.

Em resumo, os cristãos, católicos e evangélicos – ao menos uma parte deles – estão totalmente em desacordo com o que prega o seu próprio livro de fé e prática. Estão em rebelião contra o seu Deus, visto que a Bíblia é a palavra de Deus materializada. Não estão seguindo os seus mandamentos e estão amando mais homens pecadores do que seu próprio Deus. 

Como se demostrou aqui, biblicamente, o cristão nao pode desejar a morte de alguém, assim como é seu dever orar pelas autoridades. Ponto! 

* O autor é sociólogo.

Ilustração: Gilmal