Marcelo Ramos e as coisas do mundo
Lúcio Carril diz que "Marcelo Ramos consegue ser universal falando de Manaus, do Amazonas e do Brasil". Leia no artigo do sociólogo.

Ednilson Maciel, por Lúcio Carril*
Publicado em: 16/12/2024 às 11:47 | Atualizado em: 16/12/2024 às 11:48
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. “O Guardador de Rebanhos”, do livro “Poemas de Alberto Caeiro”, de Fernando Pessoa.
É assim que Marcelo Ramos consegue ser universal falando de Manaus, do Amazonas e do Brasil.
No último dia 14, estivemos na reunião do Diretório Estadual do PT do Amazonas, oportunidade na qual o Marcelo fez uma análise de conjuntura, pauta comum em reuniões políticas.
Mais uma vez me surpreendi com a sua capacidade de falar das coisas do mundo falando do preço do arroz, da farinha e da passagem de ônibus. Fala de tudo isso explicando a subida do dólar e o desespero do mercado com a melhoria da economia brasileira.
Foi assim que Marcelo mostrou que o governo Lula está no caminho certo, ao fazer reformas importantes no arcabouço fiscal cobrando mais de quem ganha mais e menos de quem ganha menos. Isso vem causando reação dos milionários escondidos sob o manto cinza do mercado, que atacam a economia brasileira com ondas de especulação financeira.
Mas o que mais me chamou atenção na fala do Marcelo foi sua capacidade interpretativa da nova realidade social do Brasil e a dificuldade da esquerda em perceber as mudanças, elemento imprescindível para uma outra abordagem política.
É preciso entender que a desregulamentação criou uma consciência diferenciada de segmentos dos trabalhadores, que não querem trabalhar com carteira assinada e optam pelo trabalho livre, sem contrato, sem tempo determinado e sem carga horária obrigatória. É um direito de escolha que tem que ser respeitado e acolhido, sem as amarras tradicionais de constituição da classe trabalhadora.
Marcelo fez também uma reflexão com a plenária sobre o impacto das políticas públicas dos governos petistas na vida do trabalhador, que agora sai da fábrica do Distrito Industrial não mais para tomar uma cerveja no calçadão da Suframa, mas para ir para a faculdade, acesso dado pelo PROUNI, FIES e as políticas de cotas.
Isso vem construindo um outro perfil social da classe trabalhadora, que passa a se reconhecer não mais como proletariado, mas como classe média.
Essas abordagens do Marcelo Ramos trazem à tona um debate inadiável para a esquerda brasileira e manauara, como premissa para construção de um novo discurso e um novo programa. Se a realidade muda, quem também não muda fica pra trás.
Por fim, Marcelo conclamou o PT a fazer a unidade política interna do partido como instrumento necessário para busca da hegemonia política e da conquista de espaços de poder. Sem um entendimento entre as forças políticas internas ficará difícil criar um objeto real de disputa.
E assim aprendi um pouco mais sobre as coisas do mundo com esse companheiro, que além de tudo é um amigo terno e preocupado com o bem-estar da nossa gente.
O *autor é sociólogo.
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados