Ameaçado de extinção, sauim-de-coleira é preocupação de cientistas no Inpa
Seminário em Manaus reúne especialistas e a sociedade nesta quinta-feira (21).

Adrissia Pinheiro
Publicado em: 18/11/2024 às 14:00 | Atualizado em: 19/11/2024 às 10:09
Alguns dos mais renomados cientistas da área de meio ambiente e primatologia estarão reunidos no seminário “Áreas prioritárias para a conservação do sauim-de-coleira”, no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia), em Manaus.
O evento realizado pelo Instituto Sauim-de-Coleira será das 8h às 11h do dia 21 de novembro (quinta-feira).
Conforme a organização do seminário, o objetivo é debater soluções para a conservação do sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), em perigo de extinção e que integra a lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo.
O primata é o símbolo de Manaus
O evento contará com a participação de Marcelo Gordo, pesquisador e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que abordará o “Cenário de conservação do sauim-de-coleira” em palestra às 9h25. Ana Luísa Albernaz, pesquisadora e líder do estudo no Museu Paraense Emílio Goeldi, apresentará os resultados do estudo inédito “Identificação de áreas prioritárias para a conservação do sauim-de-coleira no Amazonas” às 9h55.
Representantes da sociedade civil, de órgãos de gestão ambiental e institutos de pesquisa também foram convidados para o seminário, que tem como público-alvo a sociedade e os diversos atores ligados à conservação ambiental.
“A proposta é debater de forma participativa o tema para que possamos encontrar soluções e alternativas para os desafios que envolvem a conservação do sauim-de-coleira”, explicou Maurício Noronha, presidente do ISC.
De acordo com Noronha, o estudo visa identificar áreas prioritárias para a conservação do sauim-de-coleira, considerando a adequabilidade dos habitats, conectividade e criação de áreas protegidas.
Os resultados gerados balizarão as estratégias traçadas no Plano de Ação Nacional para a Conservação do Sauim-de-Coleira, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, assim como em políticas públicas para a conservação da espécie em outras esferas governamentais.
Financiado pela Re:wild, o estudo foi realizado pelo Instituto Sauim-de-Coleira, em parceria com o Emilio Goeldi, Ufam, Inpa, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), os centros nacionais de pesquisas e conservação da Biodiversidade Amazônica (Cepam) e de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio e o Tamarin Trust.
“É um estudo balizador para as políticas públicas de proteção do sauim-de-coleira nas mais diversas áreas da conservação ambiental. Através desse estudo, podemos saber onde é relevante implantar um projeto de educação ambiental, criar uma área protegida, refinar planos de conectividade de habitat, direcionar esforços para restauração florestal, priorizar áreas de proteção permanente, implantar corredores ecológicos, entre outras ações estratégicas”, disse Noronha.
Ana Luísa destacou que a destruição ambiental afeta a sobrevivência humana e ressaltou a importância de ações na conservação do sauim para mitigar problemas ambientais e promover um futuro sustentável.
“O sauim-de-coleira é um símbolo da cidade de Manaus e sua conservação é uma forma de promover uma melhor qualidade de vida, não apenas para ele, mas para todos nós”.
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Espécie só existe no Amazonas
O sauim-de-coleira é, sem dúvida, um dos mamíferos amazônicos mais ameaçados. A espécie apresenta uma distribuição geográfica restrita a apenas 8.000 km² em partes dos municípios de Manaus, Itacoatiara e Rio Preto da Eva.
A principal causa do declínio populacional é, indiscutivelmente, a destruição do hábitat natural. Esse processo ocorre, principalmente, devido ao desmatamento, que visa expandir as áreas urbanas e rurais.
Consequentemente, o desmatamento reduz o habitat disponível e isola partes da população em fragmentos florestais. Esse isolamento, por sua vez, diminui o fluxo gênico entre elas, o que coloca, assim, em risco a sobrevivência da espécie a longo prazo.
Agravando ainda mais esse cenário, muitos sauins, ao se deslocarem entre fragmentos em busca de abrigo e alimento, são vítimas de atropelamentos, eletrocussões e ataques de cães.
Além disso, a expansão da distribuição geográfica do sauim-da-mão-dourada (Saguinus midas), na extensão de ocorrência do sauim-de-coleira, é outro problema significativo. Além de serem espécies potencialmente competidoras, já existem evidências de hibridização entre elas.
Por conta de todos esses fatores, o sauim-de-coleira está categorizado nacional e internacionalmente como criticamente em perigo. Ele figura na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Ademais, está na lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza. Essa categoria representa aquelas espécies que enfrentam o mais alto risco de extinção na natureza.
De fato, o cenário é tão grave que acarretou também a sua inclusão na lista internacional dos 25 primatas mais ameaçados do mundo.
Sobre o Instituto Sauim-de-Coleira
O instituto é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos. Ele desenvolve atividades de pesquisa científica, conservação e educação.
Além disso, realiza a articulação de políticas públicas para a proteção do sauim-de-coleira e de seu habitat. O objetivo é contribuir para uma Amazônia ambientalmente saudável, economicamente próspera e socialmente justa.
Fotos: divulgação