Estudo de pesquisadores da UEA condena água do rio Negro para beber

Pesquisa da universidade aponta presença de coliformes no rio Negro, impactando a qualidade da água.

Diamantino Junior

Publicado em: 14/11/2024 às 11:39 | Atualizado em: 14/11/2024 às 11:40

A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) divulgou nesta quarta-feira (13/11) os primeiros resultados de um estudo sobre a qualidade da água do rio Negro, conduzido durante a quarta expedição do Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM). O estudo inclui o desenvolvimento de um índice de qualidade da água que avalia tanto as características naturais do rio quanto os impactos da presença humana.

Monitoramento abrangente e dados coletados

Durante a expedição de setembro, uma equipe de 13 pesquisadores da UEA percorreu o rio Negro a bordo do barco “Roberto Santos Vieira”.

A viagem durou 10 dias e envolveu a coleta de dados em 36 dos 66 pontos de monitoramento georreferenciados ao longo do rio.

Foram analisados 164 parâmetros, incluindo pH, presença de metais e coliformes, proporcionando uma visão detalhada da qualidade da água.

Presença de coliformes e impacto humano

O estudo revelou que praticamente todos os pontos monitorados continham coliformes tolerantes, sugerindo que a água do rio Negro não é adequada para consumo humano. Entretanto, os níveis ainda são considerados aceitáveis para banho. O coordenador do estudo, Prof. Dr. Sergio Duvoisin Junior, ressaltou que essas contaminações estão mais presentes em áreas urbanas, como Manaus e Barcelos, indicando a influência negativa das atividades humanas.

Bacias urbanas em situação crítica

Entre as bacias monitoradas em Manaus, os rios São Raimundo e Educandos apresentaram os piores índices de qualidade da água, devido ao despejo de esgoto e outros poluentes urbanos.

Segundo Duvoisin, a quantidade de coliformes em certos pontos é alarmante, chegando a 3,5 milhões em algumas áreas, tornando o contato humano perigoso.

Leia mais

Rio Negro volta a vazar e perde 29 centímetros em seis dias

Ele destacou que, com vontade política e recursos, ainda é possível reverter esse quadro de degradação ambiental.

Possibilidade de recuperação das bacias

O professor afirmou que qualquer bacia pode ser recuperada com a gestão adequada, baseada em dados técnicos, como os obtidos neste estudo.

As bacias do São Raimundo e Educandos, apesar de extremamente impactadas, ainda podem ser restauradas com ações coordenadas e investimentos, aproveitando o regime de águas do Amazonas, que naturalmente ajuda a “lavar” as bacias.

Parceria internacional

Outro ponto importante revelado foi a ausência de detecção de mercúrio no rio Negro, embora os equipamentos utilizados na expedição não fossem suficientemente sensíveis para confirmar a presença desse metal.

Para abordar essa lacuna, foi anunciada uma parceria com a Universidade de Harvard, que fornecerá equipamentos de alta sensibilidade para detectar metais pesados, como o mercúrio, um contaminante associado ao garimpo ilegal na região.

Essa colaboração internacional permitirá o intercâmbio de conhecimento entre alunos da UEA e de Harvard, promovendo avanços no monitoramento e preservação ambiental da Amazônia.

Os resultados preliminares deste estudo pioneiro fornecem uma importante ferramenta para os gestores públicos, que poderão utilizá-los para implementar ações de recuperação das bacias amazônicas, essenciais para a preservação do meio ambiente e da qualidade de vida na região.

Leia mais no portal A Crítica

Foto: divulgação UEA