Muitas incertezas ainda cercam venda da Amazonas Energia aos Batistas
A transferência da Amazonas Energia à J&F, assinada em outubro, está cercada de dúvidas jurídicas e financeiras. O negócio pode não ser concluído até o fim do ano.

Diamantino Junior
Publicado em: 14/11/2024 às 09:42 | Atualizado em: 14/11/2024 às 09:42
A bilionária transferência do controle da Amazonas Energia para o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, completa um mês sem definições claras, cercada por incertezas que deixam os envolvidos cautelosos quanto ao desfecho. Mesmo com a assinatura oficial do contrato em 11 de outubro, a operação está longe de ser considerada segura.
A J&F resiste em assumir o controle devido à fragilidade da decisão judicial que obrigou a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a autorizar a mudança de controlador.
A liminar da Justiça do Amazonas, que sustentou a operação, é vista como insuficiente para garantir a segurança jurídica necessária para um negócio dessa magnitude.
Possível intervenção do governo
Se a transferência não for concretizada até o prazo final, em 31 de dezembro, o governo já cogita uma intervenção. No entanto, essa alternativa poderia resultar em custos bilionários para o governo federal e depende de novos trâmites por parte da Aneel, como ocorreu no processo envolvendo a distribuidora Enel em São Paulo.
Flexibilizações e prejuízos
Outro ponto de tensão no processo é o prejuízo acumulado pela Amazonas Energia. A empresa alega que não recebeu todas as flexibilizações previstas em uma medida provisória (MP) de junho, o que teria gerado perdas de R$ 462 milhões nos últimos meses. Com a MP expirando, o valor do prejuízo pode continuar crescendo, agravando a situação financeira da distribuidora.
Questionamentos judiciais e falhas no processo
A validade das assinaturas no contrato de transferência também foi alvo de questionamento. A assinatura ocorreu pouco após a meia-noite de 11 de outubro, levantando dúvidas sobre a legalidade do ato, uma vez que a MP já não estava mais em vigor. A Justiça do Amazonas decidiu que as assinaturas eram válidas, criticando a Aneel pelo curto prazo dado às partes envolvidas, mas, mesmo com essa decisão, as empresas ainda não consideram o caso resolvido.
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O plano de reestruturação da Amazonas Energia, aprovado pela Aneel, envolve um investimento de R$ 14 bilhões ao longo de 15 anos e um aporte de capital de R$ 6,5 bilhões pela Âmbar, empresa da J&F, para reduzir a dívida da concessionária. Enquanto isso, a Advocacia-Geral da União (AGU) continua recorrendo contra a liminar que obrigou a Aneel a aprovar a transferência.
O prazo final para a conclusão da transferência está marcado para 31 de dezembro, mas até lá, as incertezas jurídicas e financeiras ainda pairam sobre o futuro da Amazonas Energia.
Linha do tempo
10 de junho. Eletrobrás anuncia que vendeu conjunto de térmicas no Amazonas para a Âmbar, da J&F
13 de junho. Governo manda MP ao Congresso flexibilizando regras da Amazonas Energia e permitindo transferência do controle da distribuidora; menos de três semanas depois, J&F apresenta proposta de compra à Aneel
3 de outubro . Justiça do Amazonas decide, em caráter liminar, obrigar Aneel a autorizar operação
7 de outubro. Aneel autoriza transferência após ser obrigada por liminar
11 de outubro . Âmbar e Amazonas assinam transferência de controle, mas firmas após 0h geram dúvidas sobre validade (já que MP perderia efeitos)
8 de novembro . Justiça do Amazonas decide que assinaturas são válidas, mas nas empresas caso ainda não é visto como resolvido
31 de dezembro . Fim do prazo para a conclusão do processo de transferência do controle societário
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