’A morte, como solução barata, serve de trampolim político às polícias’
Jacqueline Muniz analisa o uso da violência pelas polícias como trampolim político, destacando a corrosão do sistema e a subordinação da investigação à política.

Diamantino Junior, da Redação do BNC Amazonas*
Publicado em: 07/11/2024 às 10:37 | Atualizado em: 07/11/2024 às 10:37
A antropóloga Jacqueline Muniz aprofunda o debate sobre as relações entre a polícia e a política em uma espécie de mercado da morte.
“A solução ‘morte’ tem sido uma solução barata. Como eu digo: quem mata tem o mérito de limpar a sociedade do crime, quem morreu mereceu. O ‘bandido bom é bandido morto’ tem elevado a rentabilidade política eleitoral, porque produz queima de arquivo, mata-se a galinha dos ovos de ouro da investigação, do trabalho de inteligência”.
Neste contexto, as polícias acabam se convertendo em porta de entrada para a política.
“Se entrarmos na sala de retratos da Polícia Civil do Rio de Janeiro, a primeira polícia do país, veremos que todo mundo que está ali virou deputado. Era o jardim de infância, o sujeito ia para a polícia, virava chefe de polícia e depois virava deputado, senador. Porque ninguém nega um favor à polícia; a polícia é quem administra o voto”.
É por isso que o assassinato de Marielle e Anderson, além de trágico, torna-se emblemático e traz à tona a perversidade de um sistema completamente corroído. “Esse caso é exemplar, tragicamente exemplar, que foi tratado pelos governantes, em função dos seus oportunismos políticos e do seu populismo penalista”.
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O tempo
Conforme Jacqueline, um fato dramático nisso tudo é que o tempo tático da polícia é subordinado ao tempo político.
“O tempo político da exibição de produtos funciona numa lógica, o tempo investigativo é outro. Quando você subordina o tempo tático da polícia às exigências do político, dá em 174, a vítima sai morta”.
Leia a entrevista na íntegra concedida por videoconferência ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU) e Baleia Comunicação.
Foto: BNC AMAZONAS