Os fantasmas da eleição paulistana

O articulista fala sobre os dois candidatos a prefeito de São Paulo: Ricardo Nunes e Guilherme Boulos. { Leia o que diz o sociólogo Aldenor Ferreira

Os fantasmas da eleição paulistana

Ednilson Maciel, por Aldenor Ferreira*

Publicado em: 19/10/2024 às 04:42 | Atualizado em: 19/10/2024 às 07:13

Este ano, a eleição na capital paulista é marcada pela presença de dois fantasmas. O primeiro é o fantasma Ricardo Nunes, candidato à reeleição. O segundo é o fantasma do comunismo, essa fábula típica das terras invadidas por Cabral.  

Ricardo Nunes não foi eleito, não teve um voto sequer em 2020. Ele herdou a prefeitura a partir do infortúnio de Bruno Covas, que veio a óbito em 2021 em decorrência de um câncer no aparelho digestivo. 

Nunes passou dois anos praticamente sem ser visto na cidade. Nem mesmo a imprensa golpista paulistana dava atenção a ele. Fez uma gestão literalmente apagada nesses dois anos, vide apagões da Enel. Além disso, sua gestão enfrenta acusações de desvio de recursos públicos naquilo que ficou conhecido como “a máfia das creches”.

A ascensão de Nunes não tem absolutamente nada a ver com ele, pois virtude alguma há em um ser humano que declara que “Bolsonaro fez tudo certo na pandemia”. Não fez. Que diz que o 8 de janeiro não foi tentativa de golpe de Estado. Foi tentativa de golpe, sim. Como todo bolsonarista raiz, Nunes é um centro de excelência em proferir impropérios. 

O fantasma do comunismo 

Dentre outros interesses, Ricardo Nunes só está no segundo turno das eleições por conta do fantasma do comunismo. Um espantalho criado e usado pelas elites paulistas e paulistanas desde a década de 1960. 

Este ano a ameaça comunista é atribuída a Guilherme Boulos, candidato do PSOL. Ele, mesmo aberto ao diálogo com diversos segmentos políticos, intelectuais e empresariais, mesmo apresentando um projeto de cidade conectado ao século XXI, não consegue tranquilizar a burguesia rica e abastada da “terra da garoa”. 

Como desgraça pouca é bobagem, para piorar, Boulos também não consegue tranquilizar a população da periferia de que não vai coletivizar terrenos e casas de ninguém. A força da desinformação é enorme e esmaga qualquer cérebro com poucos neurônios. 

Os adversários de Boulos, ao se depararem com seu preparo e sua seriedade, ao verificarem seu projeto de cidade inteligente, e, não tendo nas mãos nenhum crime para lhe acusar, optam pela única coisa que lhes restou: o fantasma do comunismo. 

Nesse sentido, diante desse quadro agudo de distopia, o que posso dizer é que parte do eleitorado da capital paulista está presa a uma narrativa do período da Guerra Fria. Está presa, portanto, às histórias de um mundo que acabou há mais de três décadas. 

Na verdade, o fantasma do comunismo ressurge todas as vezes em que há candidaturas com projetos políticos que podem trazer mudanças reais para o povo. Como dito, é um espantalho criado pelas forças políticas retrógradas e reacionárias de São Paulo, mas que não faz o menor sentido com o movimento do real. 

Conclusão 

O fantasma Ricardo Nunes e as forças políticas que o apoiam lançaram mão mais uma vez de seu espantalho para tentar permanecer no poder por mais quatro anos. De forma oposta, o único candidato real é Guilherme Boulos. Ele é o único que pode dar à capital paulista uma gestão moderna, democrática e atenta aos anseios da população, especialmente dos mais necessitados. 

Todavia, há um grande obstáculo à sua frente. Derrotar Ricardo Nunes é relativamente fácil, mas derrotar o fantasma do comunismo, seu principal aliado, já é outra história. Esse fantasma está em cena há pelo menos 60 anos e produz, a cada eleição, enormes retrocessos. 

Força, Guilherme!

O autor é sociólogo*

Arte: Gilmal

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