Marina Silva diz que a BR-319 ‘ou será sustentável ou não será’

“Só com a sinalização de que a BR-319 seria feita sem cuidados ambientais, o desmatamento aumentou mais de 100% naquela região”.

Iram Alfaia , do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 17/10/2024 às 17:26 | Atualizado em: 18/10/2024 às 09:23

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse que a BR-319 só será asfaltada no seu trecho do meio (entre os quilômetros 177,8 ao 655,7) caso seja respeitado o conceito de sustentabilidade, ou seja, a capacidade da estrada de manter e preservar o meio ambiente.

“Só com a sinalização de que a BR-319 seria feita sem cuidados ambientais, o desmatamento aumentou mais de 100% naquela região”, disse a ministra durante audiência na Comissão de Agricultura da Câmara nesta quarta-feira (16).

Marina disse não ser contra o desenvolvimento, mas ele tem de acontecer em base sustentável. “Ou será sustentável ou não será”, disse.

“Sustentabilidade não é algo que se fala de boca, é algo que se faz de ação. Não é algo retórico, não é repetir o que as pessoas estão falando. Não é isso. É trabalho, é muito trabalho”, disse em resposta ao deputado bolsonarista Chrisóstomo (PL-RO).

“Ministra, pelo amor de Deus, onde está a sua cabeça para não querer asfaltar uma estrada que liga dois estados com o Brasil, Porto Velho e Manaus, Roraima e Amazonas, via BR-319. Essa estrada já foi toda asfaltada. Em 1978, foi inaugurada. E eu caminhei nela toda asfaltada”.

Ele estacou que metade da estrada está sem asfalto. “E a ministra disse sabe o quê? ‘Sou contra asfaltar’. Mas, ela já existe. O rio está com menos de um metro de profundidade. O combustível está com dificuldade de chegar ao meu estado. A BR ia resolver o problema. Ajude-nos, libere esse negócio. Libere, ministra. Vamos asfaltar a BR-319”, disse o deputado.

“Aumentar as operações de fiscalização dá trabalho, embargar área dá trabalho, reduzir em 85% o desmatamento de garimpo ilegal em terra indígena dá muito trabalho, muito trabalho, deputado. Quem faz isso são os agentes públicos do Estado, a Polícia Federal”, afirmou Marina.

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A reunião foi marcada pelo embate entre Marina e os deputados bolsonaristas. As críticas partiram do próprio presidente do colegiado, Evair Melo (PP-ES), da deputada Júlia Zanata (PL-SC), do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e do ex-ministro da pasta ambiental no governo Bolsonaro, deputado Ricardo Salles (Novo-SP).

Este é o que ficou famoso ao propor “passar a boiada” para desregulamentar a legislação ambiental.

De acordo com eles, a ministra não tem condições de gerir a pasta, porque está sob influência de ongs internacionais.

“Quem, realmente, ministra Marina Silva, manda na Amazônia? O governo Lula ou os financiadores internacionais? A senhora não é capacho de ong?”, disse Júlia.

“São ambientalistas de conveniência, que nunca fizeram nada pelo meio ambiente e agora vêm com esse papinho de preocupação com incêndio, de preocupação com enchente. Isso é papinho de ambientalista de conveniência”, afirmou a ministra.

Sobre ser chamada de capacho de ongs, a ministra disse que capacho é quem faz discurso de encomenda, mesmo conhecendo a biografia de uma pessoa.

“Faz discurso de encomenda para fazer lacração. Eu sou uma pessoa que penso por mim mesma. Capacho é quem vem aqui com falinha mansa fazer acusação inverídica. Isso é ser capacho”, disse a ministra.

Marina afirmou que essas preocupações ambientais poderiam se refletir na prática se “fizessem parte da vida e do cotidiano das pessoas que falam com tanta veemência sobre essas preocupações ambientais”.

A ministra também se defendeu da denominação de “inimiga do agronegócio”.

Marina afirmou lutar por um meio ambiente equilibrado, também fundamental para a produção agrícola.

“Eu estou trabalhando na prática. Eu sou ministra e digo para a senhora que eu agradeço a Deus, porque eu fico imaginando: se o desmatamento continuasse aumentando em 50%, como estaríamos?”.

Caso o desmatamento continuasse, a ministra disse que a situação poderia ser incomparavelmente pior, porque um dos vetores é o incêndio em função das derrubadas.

“E aí nós temos um fenômeno novo: agora nós temos algo em torno de 32% de incêndios em conformação florestal”.

Além disso, a ministra disse que, atualmente, 80% dos focos de incêndios estão controlados.

“Aumentando os orçamentos, aumentando a nossa governança, inclusive criando novos paradigmas, como esse que falei sobre emergência antecipada; se nós decretarmos emergência climática antecipadamente, nós podemos estocar cesta básica, alimento, combustível e remédio até três a quatro meses antes”.

Conforme a ministra, uma medida provisória de crédito extraordinário liberou R$ 514 milhões para enfrentar os incêndios florestais.

De acordo com ela, a seca histórica foi enfrentada a partir de sala de situação com representantes de mais de 20 ministérios.

O alerta de emergência ambiental foi dado por meio de portaria do governo federal em fevereiro; porém, a ministra disse que alguns estados só assinaram decretos de proibição de uso de fogo quando as queimadas se avolumaram.

Três mil brigadistas foram contratados para reforçar as equipes do Ibama e do ICMBio.

Segundo Marina, o cenário seria mais grave se o governo Lula não tivesse retomado ações de combate ao desmatamento paralisadas no governo anterior, como o Fundo Amazônia e os planos de ação para prevenção e controle do desmatamento.

Foto: Lula Marques/Agência Brasil