Amazônia: seca de rios põe 53 municípios em situação de emergência

Entre os estados estão Amazonas, Acre, Roriama e Rondônia. Defesa Civil aprovou repasse de R$ 11,7 milhões

Seca do rio Negro tem a ver com aquecimento global, diz pesquisador

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 22/08/2024 às 19:17 | Atualizado em: 23/08/2024 às 11:09

O governo federal já decretou situação de emergência em 53 municípios da Amazônia por conta da seca dos rios, que tem previsão de ser mais severa que a de 2023 e a pior dos últimos 20 anos.

Dessa forma, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional reconheceu o estado emergencial em municípios do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. Assim como a Defesa Civil nacional aprovou oito planos de trabalho.

Além disso, foram liberados R$ 11,7 milhões para ações de defesa civil na Amazônia, de acordo com o ministério. O recurso será destinado aos estados do Amazonas e Roraima.

Ainda, segundo informações do ministério, até o momento, foram liberados R$ 405 milhões do Fundo Amazônia para apoiar o Corpo de Bombeiros dos estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso).

Assim como R$ 785 milhões do programa União com Municípios foram destinados para ações de combate ao desmatamento e incêndios em 70 municípios prioritários.

O ministro Waldez Góes falou sobre as ações de enfrentamento ao desastre pelo governo federal.

Segundo ele, desde o primeiro momento, o governo Lula da Silva está mobilizado.

“A região enfrenta condições climáticas extremas, aumentando a frequência e a intensidade das queimadas. Por isso, estamos antecipando recursos e realizando diversas ações como dragagem nos rios (limpeza, desobstrução e remoção de material do fundo de grandes reservatórios de água), além de medidas de emergência adotadas, também, pelo Ministério de Minas e Energia em comunidades isoladas, no combate a incêndios”.

Leia mais

Seca se pronuncia mais severa em 2024, na região Norte

Desafios

Sobre o cenário atual da Amazônia, o ministro disse que considera um ano muito desafiador por causa das mudanças climáticas, a exemplo de 2023, de forte vazante dos rios.

“Eu sou amazônida [o ministro é do estado do Amapá] e nunca vi coisa igual ao longo da minha vida. No Pantanal, por exemplo, a seca e as queimadas, que costumavam acontecer em agosto, começaram no fim de maio, ou seja, dois meses antes. Vai ser mais prolongada a estiagem”.

Leia mais

Mais de 110 mil pessoas já são afetadas por seca dos rios no AM

Ações no Amazonas

Após participar da reunião dos governadores da Amazônia e do Pantanal, no Palácio do Planalto, para tratar das ações coordenadas de prevenção, controle e manejo do fogo nos estados, ocorrida nesta quarta-feira (21), o governador do Amazonas, Wilson Lima, deu entrevista à rede de televisão CNN Brasil.

Nessa entrevista, Lima destacou principalmente as ações que o governo do Amazonas está implementando para minimizar os efeitos da vazante dos rios este ano.

“O cenário hoje que a gente tem e o que tem sido feito é medidas mais emergenciais para conter essa situação. Desde o início do ano, nós estamos em um comitê de acompanhamento da estiagem, pois, já tínhamos uma ideia do que seria este ano, levando em consideração o que aconteceu em 2023. Portanto, já começamos a fazer contato com a indústria, comércio, com aquelas instituições e empresas que tratam de serviços essenciais como as térmicas, responsáveis pelo abastecimento da energia elétrica nos sistemas isolados do interior do Amazonas”.

Lima disse que a seca dos rios se antecipou em 30 dias, com os níveis das águas, nas nove calhas, abaixo do previsto, se comparados a todas as grandes vazantes do estado.

Leia mais

Rio Negro desce quase 2 metros e preocupação com seca cresce

Problemas

Ao destacar as ações governamentais, Lima citou os três principais problemas enfrentados pela casa: a questão humanitária, a de navegação e as queimadas.

Nesse caso, para enfrentar a questão humanitária, o governador do Amazonas disse à CNN Brasil que há previsão de envio de 130 mil cestas básicas para o interior e 30 mil microssistemas de abastecimento de água potável.

No caso da navegação, especialmente na região do alto rio Solimões, que já está comprometida em municípios como Tabatinga e Benjamin Constant, na fronteira com a Colômbia e Peru, Lima citou o projeto de dragagem.

Disse que conversou com o diretor-geral do Dnit, que garantiu estar em curso o processo de licitação e contratação das obras até o mês de setembro.

Por fim, nas ações do estado do Amazonas para as queimadas, o governador contou que há pelo menos 400 homens em brigadas de incêndio, sendo 300 do Governo do Estado e 100 brigadistas do governo federal atuando no sul do Amazonas e na região metropolitana de Manaus.

Desastre de 2023

O governo federal divulgou também o relatório da resposta aos desastres climático no Amazonas em 2023. Houve 79 ocorrências com reconhecimento federal de situação de emergência em 60 municípios.

Foram ainda destinados R$ 94,93 milhões em recursos federais da Defesa Civil para ações de assistência humanitária, restabelecimento e recuperação, sendo pagos integralmente no exercício de 2023.

O Bolsa l-Família foi antecipado para todas as famílias beneficiárias de 55 municípios em outubro, novembro e dezembro, sendo transferido no primeiro dia de pagamento naqueles meses.

A seca histórica do ano passado afetou mais de 630 mil pessoas. Em Manaus, foi a pior registrada em 121 anos. Dessa forma, o governo federal destinou um total de R$ 627 milhões para enfrentar os efeitos da crise climática.

Destaque para as medidas de manutenção da navegabilidade nos rios (R$ 138 milhões); ações emergenciais de saúde (R$ 232 milhões) e operações de apoio logístico na região.

Ajuda humanitária

Entre as medidas tomadas para atender a população, em 2023, o governo federal destacou ações de defesa civil, dragagem de rios, antecipação de benefícios, abastecimento de combustíveis, suprimento de energia elétrica, kits de medicamento, parcerias para elaborar planos de trabalho, envio de 3.530 brigadistas, liberação de 780 profissionais do Mais Médicos e repasses de recursos para a compra de produtos de agricultura familiar.

Em novembro, do ano passado, foi ainda instituído o auxílio extraordinário para pescadores e pescadoras artesanais, beneficiários do seguro-defeso, cadastrados nos municípios da Região Norte, em emergência decorrente da estiagem no valor de R$ 2.640.

Foram R$ 271,6 milhões para apoiar 102 mil pessoas que vivem da pesca artesanal no Acre, no Amazonas, no Amapá e no Pará. Mesmo quem era titular de outros benefícios teve direito ao auxílio.

O estado com mais beneficiados foi o Amazonas (61.303), seguido de Pará (33.243), Acre (6.882) e Amapá (1.471).

Foto: Ronaldo Siqueira/especial para o BNC Amazonas