Ele saiu do interior de SP para grilar terras e virar milionário na Amazônia
Investigação revela como o médico paulista Ricardo Stoppe Júnior fraudou documentos para se tornar "dono" de terras na Amazônia.

Publicado em: 19/08/2024 às 15:25 | Atualizado em: 19/08/2024 às 15:35
No último domingo (18/8), o Fantástico trouxe à tona detalhes exclusivos de uma investigação que envolve um médico do interior de São Paulo acusado de se tornar “dono” de parte da Floresta Amazônica, acumulando um faturamento de R$ 800 milhões por meio de fraudes. Durante dez dias, a equipe do programa percorreu vastas áreas de terra para expor como Ricardo Stoppe Júnior, natural de Araçatuba, conseguiu forjar documentos e adquirir uma área equivalente ao tamanho do Distrito Federal.
Stoppe Júnior, que atua como médico e empresário, é apontado pela investigação como um dos maiores grileiros de terras no Norte do Brasil, operando há pelo menos 20 anos. Conforme apurado pelo Fantástico, ele teria lucrado R$ 180 milhões com projetos de créditos de carbono e mais R$ 600 milhões com a extração ilegal de madeira.
O esquema de fraudes na Amazônia
A Polícia Federal revelou que Ricardo Stoppe Júnior montou um esquema sofisticado de fraudes documentais, tornando-se, no papel, proprietário de mais de 500 mil hectares de terras na Amazônia, grande parte delas pertencentes à União. Alterando registros oficiais com a ajuda de sócios, Stoppe Júnior conseguiu forjar uma história que lhe conferia a posse das terras.
De acordo com João Pedro Alves Batista, perito criminal da Polícia Federal, “houve fraude. Uma mesma pessoa forjou essas duas folhas e inseriu de forma fraudulenta nos livros”. A perícia analisou dois livros de registros de imóveis rurais, com quase 100 anos, nos quais a organização criminosa inseriu páginas falsas, obtendo a documentação necessária para a grilagem de terras.
Além disso, a investigação aponta que o sucesso do esquema dependia do pagamento de propinas a funcionários de cartórios e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), para que atestassem a legalidade dos documentos fraudulentos. As negociações, segundo a polícia, eram realizadas por telefone, como evidenciado em um áudio interceptado.
A Polícia Federal afirma que Ricardo Stoppe Júnior não possui legitimidade sobre nenhuma das terras na Amazônia que reivindica, destacando que “são todas terras da União” e que a grilagem começou por volta de 2004.
Prisão e desdobramentos
Ricardo Stoppe Júnior foi preso em junho deste ano, mas as investigações continuam em andamento. O Fantástico acompanhou operações de busca e apreensão, além de visitas a regiões ainda ocupadas por pessoas ligadas ao grupo. Em Lábrea, no interior do Amazonas, a Polícia Federal e o ICMBio restabeleceram a posse de uma área transformada na Floresta Nacional do Iquiri em 2008, onde Stoppe Júnior ainda tenta reivindicar a propriedade.
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A Polícia Federal identificou pelo menos 50 integrantes da organização criminosa. Os principais líderes, incluindo Ricardo Stoppe Júnior, serão indiciados por crimes como desmatamento, corrupção de servidores públicos, lavagem de dinheiro e organização criminosa. “Já bloqueamos todas as matrículas fraudadas dessa organização criminosa e vamos pedir a restituição desse patrimônio para a União”, informou o delegado responsável.
O que dizem os citados?
Em resposta às acusações, a defesa de Ricardo Stoppe Júnior afirmou que o médico é “absolutamente inocente” e que as perícias técnicas e contábeis esclarecerão todas as acusações. A defesa também considerou a prisão desnecessária, já que ele é réu primário e não possui antecedentes criminais.
A reportagem tentou contato com Sâmara de Farias Silva, oficial de cartório afastada, mas não obteve sucesso. Já o INCRA declarou que está colaborando com a Justiça e encaminhando títulos de terra suspeitos para análise de órgãos competentes, além de investigar a conduta de seus servidores envolvidos.
As empresas Moss e Verras, por sua vez, afirmaram que encerraram suas relações comerciais com as partes investigadas assim que tomaram conhecimento dos fatos.
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