Esquema da gasolina adulterada pagava ‘mensalinho’ a servidores públicos

PF descobre pagamento de propinas a servidores da ANP, envolvidos em esquema de adulteração de combustíveis, resultando em afastamentos e investigações detalhadas.

Diamantino Junior

Publicado em: 30/07/2024 às 13:56 | Atualizado em: 30/07/2024 às 13:56

A Polícia Federal (PF) identificou o pagamento de propinas a pelo menos três servidores da Agência Nacional do Petróleo (ANP) por organizações criminosas especializadas na adulteração de combustíveis. Os envolvidos são conhecidos pelos apelidos de ‘Veinho’, ‘Pinga’ e Valmir. Um dos servidores já está aposentado e os outros dois foram afastados de seus cargos.

A ANP, que é vinculada ao Ministério de Minas e Energia, informou que está colaborando com as investigações.

Dois servidores terceirizados foram afastados de suas funções na capital paulista.

Segundo a PF, os pagamentos eram realizados tanto em dinheiro vivo quanto por meio de transferências mensais, caracterizando um esquema de “mensalinho”.

O valor das propinas apuradas até o momento é de, pelo menos, R$ 283,3 mil.

O esquema teria beneficiado Marcos Estéfano Perini, conhecido como ‘Olho azul’ ou ‘Alemão’, que é descrito como um empresário influente na ANP.

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A investigação revelou que as propinas eram destinadas às contas de ‘Olho azul’.

Entre 2019 e 2023, foram identificadas transferências bancárias que totalizam mais de R$ 220 mil, oriundas de contas usadas por duas quadrilhas para movimentar recursos obtidos com o comércio ilegal de combustíveis adulterados.

Operações Boyle e Barão de Itararé

Essas descobertas fazem parte do inquérito da Operação Boyle, que investiga três organizações criminosas especializadas na adulteração de combustíveis, incluindo o uso de metanol, uma substância altamente inflamável e tóxica, cujo uso como combustível é proibido.

Os resultados desta operação levaram à abertura da Operação Barão de Itararé, que na última terça-feira (23/7), realizou buscas nos endereços de Ricardo Catunda do Nascimento Guedes, auditor fiscal da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, suspeito de corrupção e favorecimento a uma das quadrilhas.

Envolvidos no esquema

‘Veinho’ é o apelido de Domingos Martins Lemos Filho, servidor da ANP que se aposentou em janeiro deste ano.

A PF encontrou mensagens em que os supostos integrantes da quadrilha de ‘Toninho’ mencionam pagamentos a Domingos.

‘Pinga’ é o apelido de Gilmar Novas Pinheiro, motorista terceirizado da ANP, que alertava os integrantes do grupo sobre as fiscalizações previstas pela Agência.

Ele recebia envelopes com dinheiro e pagamentos mensais, referidos como “café de todo mês” pelos investigados.

Outro motorista da ANP envolvido é Valmir Ernandes de Almeida, cujas contas bancárias mostraram comprovantes de transferências das quadrilhas investigadas.

Muitos desses lançamentos eram feitos mensalmente.

As investigações seguem em curso, e a ANP reafirma seu compromisso em colaborar com a Polícia Federal para o esclarecimento completo dos fatos e a responsabilização dos envolvidos.

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil