Presidente do Banco Central reuniu 52 vezes com Bolsonaro

Roberto Campos Neto enfrenta críticas e debates sobre a autonomia do BC e taxas de juros, mantendo uma agenda intensa e estratégica.

Diamantino Junior

Publicado em: 19/07/2024 às 22:04 | Atualizado em: 19/07/2024 às 22:07

Faltando cinco meses para o fim de seu mandato à frente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto mantém uma agenda digna de alguém em transição de carreira. Em meio aos debates sobre uma proposta de emenda constitucional que altera a estrutura do BC e discussões acaloradas sobre política monetária e inflação, ele equilibra férias, eventos, palestras, entrevistas e reuniões com opositores do governo.

Com uma agenda que faria inveja ao mais aguerrido usuário do LinkedIn, Campos Neto é presença constante em fóruns globais e compromissos internacionais. De acordo com a agenda oficial, ele trabalhou em gabinete apenas 113 dias neste ano, participou de 35 eventos, concedeu sete entrevistas e realizou nove viagens internacionais.

Se há algo que movimenta a política são os relacionamentos, e Campos Neto parece compreender isso perfeitamente. Durante sua gestão de quase seis anos, ele teve encontros mensais com o ex-presidente Jair Bolsonaro, totalizando 52 reuniões em 48 meses. Já com o atual presidente Lula, em 19 meses, houve apenas um encontro.

Autonomia em debate

As críticas de Lula ao Banco Central e a Campos Neto reacenderam a discussão sobre a autonomia da instituição. Embora a autonomia do BC já existisse desde o Plano Real, ela foi formalmente institucionalizada durante o governo Bolsonaro, o que desagrada os governistas. A insatisfação decorre da falta de controle sobre o presidente do BC e suas ações. No modelo atual, o mandato do presidente do Banco Central não coincide com o do presidente do Brasil, o que gera descontentamento adicional. Além disso, o presidente do BC não pode ser convocado pelo Congresso e não precisa prestar contas à Casa que confirmou sua indicação.

A principal questão em jogo, no entanto, são os juros. Atualmente, a taxa de juros do Brasil é uma das mais altas do mundo. Comparativamente, até a ilha de Madagascar possui uma taxa ligeiramente menor, onde 90% da população vivia com cerca de U$1 por dia em 2021.

Proposta de Emenda Constitucional

A PEC 65 de 2023, em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, transforma o Banco Central de uma autarquia para uma empresa pública. Encampada por 46 senadores, a proposta visa permitir que os funcionários tenham plano de carreira e que o BC possa operar sem constrangimentos financeiros. Contudo, a valorização salarial pode ser alcançada por meio de políticas salariais, não necessariamente através da autonomia financeira.

Agenda seletiva

A análise das reuniões de Campos Neto em 2024 revela encontros com apenas cinco senadores, todos influentes sobre a PEC 65. Entre eles estão Rodrigo Pacheco, presidente do Senado; Ciro Nogueira (PP/PI), crítico do governo Lula; Carlos Portinho (PL/RJ), líder do PL no Senado; e Davi Alcolumbre (UNIÃO/AP), duas vezes, signatário da PEC e presidente da CCJ.

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Nos meses finais de seu mandato, Roberto Campos Neto se vê no centro de uma complexa rede de relações políticas e debates intensos sobre a direção futura do Banco Central, enquanto maneja cuidadosamente uma agenda movimentada e estratégica.

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Foto: Paulo Pinto/Agencia Brasil