Uma outra Manaus é possivel

Com essa palavras, o sociólogo quer fazer um chamado à reflexão sobre o presente e o futuro de Manaus. Leia o artigo de Lúcio Carril

Ednilson Maciel, por Lúcio Carril*

Publicado em: 16/07/2024 às 11:22 | Atualizado em: 16/07/2024 às 11:29

Capturar e escravizar “índios” nunca foi um bom exemplo de gestão pública.

Talvez tenha sido nessa experiência macabra, fundadora da cidade de Manaus, que uma canalhada de gestores tenha iniciado seus estudos e chegado ao ápice quando fizeram daqui um exemplo daquilo que não se deve fazer na gestão pública.

Manaus foi construída sobre sangue, suor e cadáveres dos povos indígenas e se mantém erguida pela força de um povo aparvalhado, trabalhador e vitimado pela ignorância.

Isso não foi obra do acaso. Foi um projeto ideológico dos colonizadores e da elite comercial embranquecida pelo ouro negro saído da hevea brasiliensis.

Passamos por vários ciclos econômicos e todos eles deixaram rastros de miséria e abandono. Assim também se projetaram políticos oportunistas, reprodutores de gestões públicas nefastas.

Manaus chegou ao século XXI com indicadores lastimáveis.

Segundo o Instituto Trata Brasil, a capital tem apenas 25,48% de cobertura de esgoto e um índice menor de tratamento. O resultado não poderia ser outro: Manaus está entre as piores cidades para se viver. Das 26 capitais, Manaus é a 22ª no ranking do IDGM (Índice de Desafios da Gestão Municipal) com 0,545 pontos.

Para nosso desespero, a capital amazonense assume a terceira posição em piores indicadores sociais do Brasil, aponta o Mapa da Desigualdade do Instituto Cidades Sustentáveis (março/2024). A expectativa de vida do manauara é de 59 anos.

Quanto à moradia, 53% na população vivem faveladas (IBGE 2023), numa cidade considerada uma das 100 mais perigosas do mundo, de acordo com levantamento do Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal do México (2022), uma das principais entidades internacionais no monitoramento de taxas de crimes violentos, segurança pública, narcotráfico e políticas de governo.

Os números seguem estarrecedores, mostrando conexão entre suas mazelas sociais e administrações catastróficas.

Não quero com o desenho desse quadro real criar desesperança, mas fazer um chamado à reflexão sobre o presente e o futuro de Manaus.

É possível mudar essa realidade a partir do compromisso de cada cidadão e cidadã em demonstrar amor por sua cidade, começando por defenestrar políticos picaretas, responsáveis por indicadores tão lastimáveis.

Não podemos mudar a história pra trás, mas podemos construir uma nova história, que incorpore sentimentos de respeito, carinho e cidadania. Manaus pode ser melhor para viver e ser feliz.

Chega de tolerar candidatos mentirosos ou ser cúmplice da sua mentira. Se tem político desonesto é porque tem eleitor igualmente desonesto.

Essa história de que nenhum político presta é fantasiosa e irresponsável, pois eles não caem do céu. Podem até sair do esgoto com a mão que o eleitor ruim lhe dá, mas do céu nunca cairão.

Sim, uma outra Manaus é possível. Só depende de você.

*O autor é sociólogo.

Foto: Marcelo CamargoAgência Brasil