Alex, o pipoqueiro

Alex Santarém Valente, pipoqueiro de Parintins por 20 anos, é homenageado com uma pintura no museu da cidade. Sua viúva, Franciane Andrade, continua seu legado.

Diamantino Junior

Publicado em: 15/07/2024 às 21:57 | Atualizado em: 15/07/2024 às 21:58

Por Dassuem Nogueira*

Alex Santarém Valente tinha 37 anos quando faleceu em 6 de junho de 2023, vítima de uma cardiopatia.

Um pouco antes de falecer, ele refletia sobre a vida “Será que alguém vai sentir a minha falta quando eu me for?”.

Por 20 anos, Alex vendeu pipoca em um carrinho na praça da catedral de Nossa Senhora do Carmo, em Parintins, no Amazonas.

Alex não só faz falta como está eternizado em uma tela de 100 cm x 80 cm no quadro Pipoqueiro.

Ele é o primeiro que vemos quando entramos na sala de exposições temporárias do Museu de Parintins, inaugurado em junho deste ano.

Sua dedicação era tão notável que o artista plástico Evanil Maciel, um dos maiores expoentes das artes plásticas de Parintins, fez dois quadros para ele.

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Amor ao que se faz

Alex, o pipoqueiro, tinha outras habilidades, como fazer pães e móveis. Mas, gostava mesmo era de ser o pipoqueiro da praça.

“Ele vendia pipoca por amor, fazia porque gostava de encontrar as pessoas, tinha alegria de ir lá. Fazia chuva ou sol, ele não faltava”.

Quem nos conta é sua viúva, Franciane Andrade, 30 anos. Com Fran, Alex teve uma filha que hoje tem 7 anos. Com a primeira esposa, teve outra menina de 13 anos.

Antes de falecer, Alex pediu à companheira que continuasse com o carrinho de venda de pipoca na praça da Catedral.

Assim, todos os dias, ela leva o carrinho com a ajuda do irmão até a praça, onde permanece de 16h30 às 22h.

“O carrinho continua, mas sob nova direção”, brinca Fran.

Ela conta que os clientes seguem fiéis. E que muitos param para conversar com ela e relembrar as histórias de Alex.

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“Evanil quer pintar um quadro meu”

Um dia, Alex chegou em casa muito feliz: “Evanil quer pintar um quadro meu!”.

Evanil Maciel, 70 anos, é um artista muito conhecido dentro e fora de Parintins.

É mestre em pintar o cotidiano da cidade.

Fran conta que ele tirou algumas fotos de Alex e depois de semanas mostrou a primeira pintura. Alex se sentiu homenageado.

Eles souberam que a segunda pintura estaria em uma pizzaria artesanal do bairro do Palmares, onde o casal morava.

Fran conta que uma noite saíram à procura da tal pizzaria, mas não acharam. E Alex faleceu sem ver a segunda pintura.

Alex para o mundo ver

Um ano após o seu falecimento, alguém responsável pelo Museu de Parintins telefonou para Fran perguntando se ela gostaria de estar na inauguração vendendo pipoca na praça Eduardo Ribeiro, onde o prédio está localizado.

Ela aceitou o convite, mas não chegou a entrar no museu.

No dia seguinte, uma amiga lhe contou que o quadro de Alex estava em destaque na exposição.

E ela lembra do questionamento do marido antes de falecer.

Pois Alex, não só jamais foi esquecido por seus clientes, que seguem comprando pipoca no carrinho comandado por ela, como está eternizado pela arte de Evanil Maciel, lembrado por toda a cidade e seus visitantes.

Foto: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas