Banana: cerco a garimpeiros no AM aumenta produção e derruba preço
A unidade do cacho que custava, recentemente, até R$ 180, era vendida neste dia 9 de julho entre R$ 10 e R$ 35.

Wilson Nogueira, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 12/07/2024 às 10:36 | Atualizado em: 12/07/2024 às 10:59
O preço da banana pacovã desabou na feira da Banana, na área conhecida como Manaus Moderna (centro histórico, na orla do rio Negro), principal centro distribuidor de frutas regionais do Amazonas.
A unidade do cacho que custava, recentemente, até R$ 180, era vendida neste dia 9 de julho entre R$ 10 e R$ 35.
O fenômeno é atribuído à migração de trabalhadores da garimpagem ilegal do rio Madeira para a bananicultura.

Ao menos duas mil pessoas retornaram à atividade agrícola após ações policial e judiciária realizadas pelo governo federal, a partir do segundo semestre de 2021.
Supersafra
A produção do Madeira soma-se a uma supersafra nos municípios paraenses de Oriximiná e Alenquer.
Essa é a justificativa corrente entre atacadistas e varejistas da feira da Banana que estão preocupados com a saturação da oferta.
“Tenho um fornecedor que está com três mil cachos de banana pacovã (banana grande) prontos para embarcar e não tenho como atender ele”, disse o comerciante Marlison Sales.
O problema é sério porque, segundo o atacadista, são antigos fornecedores que, para não ficar no prejuízo, irão procurar mercados alternativos.
“Há uma quebra de compromisso entre fornecedor e comprador, uma vez que os preços caem muito para o agricultor. E o distribuidor, por sua vez, tem que ser cauteloso para não ter prejuízo com a compra de estoque acima da medida que o mercado aguenta”, disse Sales.
Ele informou que essa é a primeira safra de banana afetada pela migração dos trabalhadores da garimpagem ilegal para a agricultura, no rio Madeira.
“Agora tá todo mundo plantando banana”.
A atacadista Jaqueline Brasil, há dez anos no comércio da banana, afirma que nunca havia testemunhado uma safra tão farta do produto.

“Isso aconteceu porque o governo acabou com a garimpagem no rio Madeira”.
Ela recebe banana de Alenquer e Oriximiná, onde a produção também está alta.
“Estou recebendo mais de três mil cachos ainda nesta semana e não sei como vai se comportar a revenda”.
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Consumidor
O primeiro aviso de que a banana está no preço ameno no distribuidor é a presença de vendedores ambulantes da fruta nos semáforos e nas banquinhas de beira de rua de Manaus.
Essa é uma forma de desovar os estoques, evitar prejuízos e fazer o capital do setor girar mais rápido.
O comerciante José Batista de Araújo, dono de mercearia na feira da Japiinlândia, bairro na zona sul, disse que nesta semana comprou o cacho da banana, ainda dentro do barco, antes de chegar aos distribuidores da Manaus Moderna, a R$ 30.
Não faz tempo, conforme ele, chegou a pagar R$ 180 pela mesma quantidade da fruta.
No começo do ano, uma unidade de banana pacovã, no varejo, chegou a R$ 4. Agora, podia ser encontrada por R$ 1,50 em bancas do centro.
O quilo da banana prata caiu de R$ 15 para R$ 9,50 no mesmo período.
Os preços variam de acordo com a localização dos bairros em relação ao centro distribuidor, porque neles estão embutidos custos com transporte.
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Banana prata
As bananas pacovã e prata são as mais vendidas em Manaus.
O preço da banana prata, entretanto, oscila entre R$ 170 e R$ 190 a caixa nos atacadistas.
“A banana prata é sempre mais cara porque vem da Bahia, do Ceará e Maranhão. O preço dela só recua com a entrada da banana vinda de Roraima, o que não deve acontecer tão cedo porque a estiagem queimou os bananais”, disse Araújo.
Nesta época do ano, tanto o atacadista quanto o varejista têm que vender o produto rapidamente, antes que se deprecie pelo efeito do calor. No geral, as frutas apodrecem em menor tempo de exposição.
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Importação
Para o mestre em agricultura familiar Waldenor Buretama, ainda não há como confirmar se realmente a bananicultura do rio Madeira é a responsável pela queda do preço da pacovã no mercado de Manaus.
Isso porque, segundo ele, a produção de banana no Amazonas é irrisória para o potencial de consumo que o estado possui.
Os dados que Buretama disse ter em mãos, coletados por um especialista do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam), apontam que o estado produz entre 5 e 6 milhões de cachos da fruta por ano.
“Essa quantidade é insuficiente para abastecer o mercado amazonense”, disse.
Assim, Buretama disse acreditar que a queda no preço da pacovã é mais por conta da importação de outros estados que da safra do rio Madeira.

“Portanto, não existe excedente de produção. Quanto às sobras, devem-se ao baixo consumo”.
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Garimpeiros
A garimpagem ilegal no rio Madeira é feita por meio de balsas equipadas com dragas de sucção operadas por mergulhadores.
O pico da invasão ocorreu a partir do final de 2021, quando ao menos 300 balsas ocuparam parte do trecho do rio Madeira, na altura da comunidade Rosarinho, no município de Autazes.
Ao menos 130 balsas foram queimadas pela Polícia Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Outras foram apreendidas ou furaram o cerco montado pelas autoridades.
Com aumento da pressão policial do governo Lula à garimpagem ilegal na Amazônia, o rio Madeira ficou praticamente livre dessa atividade, o que pode ter levado trabalhadores das balsas a migrarem para a plantação de banana.
Desmonte
A extração ilegal de ouro nos barrancos do Madeira existe há várias décadas, mas, desde 2019, no governo Bolsonaro (2019-2022), se intensificou sobre toda a calha do rio, motivada pelo desmonte da Polícia Federal, Ibama e ICMBio.
Atraídos pela corrida ao ouro, parte dos agricultores das proximidades das áreas de cata se somou a garimpeiros vindo de outras regiões do país.
Em 2022, eles já ocupavam trechos do rio vinculados a Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã, Borba, Nova Olinda do Norte e Autazes.
A atividade, segundo órgãos de segurança do país, estava sendo financiada por facções do crime organizado.
Fotos: BNC Amazonas