Adolescente refugiado do povo warao faz seletiva no Flamengo
Conheça a história de Greyver Moraleda. Quem conta é a antropóloga Dassuem Nogueira.

Ednilson Maciel, por Dassuem Nogueira*
Publicado em: 09/07/2024 às 18:12 | Atualizado em: 09/07/2024 às 18:13
Greyver Moraleda, da etnia warao, é refugiado venezuelano no Brasil. Aos 13 anos de idade, ele estuda o 6.º ano fundamental e se empenha em ser jogador de futebol profissional.
Em junho deste ano, Greyver fez sua primeira tentativa para ser atleta das categorias de base do Flamengo, no Rio de Janeiro, com apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Não foi desta vez que ele passou na seletiva, porém, segue se preparando para conquistar a categoria profissional do futebol.
Greyver é filho de Norberto e Josefina Moraleda. O casal tem mais um filho, de 8 anos.
Eles chegaram ao Brasil em 2018, no ápice da grave crise econômica e política que levou milhares de venezuelanos a cruzar a fronteira terrestre com o Brasil, através de Roraima.
A família passou três meses em Pacaraima (RR), três meses em Boa Vista (RR) e um ano e meio em Manaus (AM).
Atualmente, eles moram em Ananindeua, na região metropolitana de Belém, no Pará.
Lá, Greyver descobriu o seu talento para jogar futebol. Desde 2022, ele é lateral esquerdo na escolinha de futebol do Flamengo.

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Um orgulho para os waraos
Além de fazer o teste, Greyver ganhou do Flamengo ingressos para o “Match Day”, que consiste em uma visita ao estádio, onde ele pôde conhecer o vestiário dos jogadores, o auditório onde ocorrem as coletivas de imprensa e acompanhar a entrada dos jogadores do Flamengo para o jogo.
Greyver possuía uma bolsa de estudos na escolinha de futebol do Flamengo. Porém, a bolsa expirou e ele e sua família buscam doações para que o menino siga com o seu sonho.
O indígena é um orgulho para sua família e seu povo. Muitos waraos no Brasil se mobilizaram para arrecadar doações para que ele pudesse ter a chance de fazer o teste no Rio de Janeiro.
Os waraos são a maior população indígena migrante e refugiada do Brasil. Atualmente, são cerca de 7 mil indígenas presentes em todos os estados.
A maior população está em Roraima (1.963), seguida do Pará (1.300) e do Amazonas (600).
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Indígenas no futebol brasileiro
Poucos sabem, mas Garrincha era filho de um indígena fulni-ô, etnia do agreste pernambucano.
José Sátiro do Nascimento, da etnia xucuru-cariri, de Alagoas, ficou conhecido como Índio. Ele foi campeão brasileiro, paulista e mundial pelo Corinthians, onde jogou na transição de 1990 para 2000.
Atualmente, Índio vive com sua família em uma pequena aldeia – mudaram-se para o sul da Bahia e depois para Minas Gerais após conflitos com familiares.
Gavião Kyikatejê é o primeiro time indígena profissional do Brasil. Criado em 2007 e profissionalizado em 2009, o time representa a aldeia apaixonada por futebol localizada em Bom Jesus do Tocantins (PA).
O seu treinador Zeca Gavião, cacique da aldeia kyikatejê, é o primeiro indígena brasileiro com formação superior em futebol.
O time foi criado porque os indígenas da etnia, embora talentosos, eram orientados a não se assumirem como indígenas nas seletivas dos grandes times.
Por isso, Zeca teria criado o time que hoje disputa a terceira divisão do Campeonato Paraense.
*A autora é antropóloga
Fotos: divulgação