Expansão ou precarização?
A expansão rápida e muitas vezes mal planejada das universidades e institutos federais pode levar à precarização do ensino superior, técnico e tecnológico no país. O sociólogo Aldenor Ferreira explica em seu artigo semanal

Ednilson Maciel, por Aldenor Ferreira
Publicado em: 06/07/2024 às 02:15 | Atualizado em: 05/07/2024 às 18:48
A proposta de expansão das universidades e institutos federais é uma medida positiva rumo à democratização do ensino superior, técnico e tecnológico no Brasil. Aumentar o número de campi, cursos e vagas nestas instituições oferece a um número maior de pessoas a chance de se qualificarem técnica e culturalmente, o que podemos considerar uma iniciativa bastante louvável.
Isto porque esta maior qualificação pode levar a melhores perspectivas de emprego e salário, promovendo inclusão e mobilidade social. Além disso, a presença de universidades e institutos federais em regiões menos desenvolvidas do país tem potencial para impulsionar a economia local e estimular o desenvolvimento regional.
Das condições de trabalho
No entanto, paradoxalmente, a expansão rápida e muitas vezes mal planejada das universidades e institutos federais pode levar à precarização do ensino superior, técnico e tecnológico no país. Um dos principais problemas é a falta de recursos adequados para sustentar este crescimento.
Em muitos casos, a infraestrutura não acompanha o aumento do número de estudantes, resultando em salas de aula superlotadas ou mesmo falta de salas, equipamentos, bibliotecas, laboratórios, restaurantes, espaços de convivência e esportes. A qualidade do ensino pode ser comprometida, caso a expansão não seja acompanhada de investimentos na contratação de professores e técnicos qualificados e em quantidade suficiente.
Sem considerar a variável orçamentária, haverá sobrecarga de trabalho e diversos adoecimentos, o que, certamente, afetará a qualidade do ensino, das pesquisas e das atividades de extensão. Sem a eficaz realização das atividades deste tripé, a universidade passa a ser apenas mais um “colegião”.
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O equilíbrio necessário
Para que a expansão das universidades e institutos federais seja verdadeiramente benéfica à sociedade, ela precisa, acima de tudo, funcionar. Para isto, é fundamental que haja orçamento, afinal, sem orçamento não se faz nada.
Neste sentido, anunciar a expansão da rede federal de ensino no país sem a devida recomposição do orçamento das universidades e institutos já existentes é um passo maior que a perna. É populismo educacional. E, pior ainda, é precarizar as que já existem e nivelar por baixo as novas unidades.
A expansão não pode focar apenas na construção de novos campi e prédios. Ela precisa garantir o acesso e a permanência dos estudantes. Buscar este equilíbrio requer políticas públicas que assegurem o financiamento adequado para as universidades e institutos federais do país.
Além disso, é importante que a expansão seja planejada de forma a atender às necessidades específicas de cada região, evitando assim a criação de instituições e cursos que não dialoguem com as potencialidades de um determinado território.
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Conclusão
A questão da expansão versus precarização das universidades e institutos federais, que levantei brevemente aqui, é complexa e multifacetada. Embora a ampliação do acesso à educação superior seja fundamental para o desenvolvimento socioeconômico, sociocultural e sociopolítico do Brasil, os projetos e as políticas de expansão precisam ser respaldados por investimentos adequados para a realização satisfatória de tal empreitada.
Desta forma, será possível transformar o projeto de expansão das universidades e institutos federais em motores do desenvolvimento do país. Com toda certeza, os avanços são necessários. Por isto, digo sim à expansão, mas, ao mesmo tempo, digo não a uma expansão precarizada que prejudique a qualidade do ensino.
*O autor é sociólogo.
Arte: Gilmal