A noite em que a Batucada parou
Em 24 de junho de 1965, a Batucada do boi-bumbá Garantido parou em Parintins para o nascimento de João Paulo Ribeiro, que se tornaria um mestre percussionista.

Diamantino Junior, por Dassuem Nogueira*
Publicado em: 24/06/2024 às 10:53 | Atualizado em: 24/06/2024 às 16:05
Na noite de 24 de junho de 1965, em Parintins, o boi-bumbá Garantido estava nas ruas pagando a promessa de mestre Lindolfo Monteverde a São João Batista.
Como faz desde sua criação, o bumbá sai do terreiro da sua família, na baixa da Xanda, para dançar de fogueira na rua e em quintas de admiradores.

Ao atravessar a rua Armando Prado, o boi parou em frente à casa de seu Joaquim Ribeiro. Dona Rosa, sua esposa, estava em trabalho de parto.
Ao saber que estavam diante do sagrado momento do nascimento, o bumbá silenciou a Batucada para aguardar as últimas dores que trouxeram ao mundo o quinto filho do casal Ribeiro.
Quem conduzia o parto de dona Rosa era a memorável dona Nêga Parteira, vizinha da família na Armando Prado.
Nascido em 24 de junho, o filho dos Ribeiro recebeu o nome de João Paulo, como reza a onomástica católica.
Segundo essa tradição, a criança que nasce no dia de um santo popular deve ganhar o seu nome. Desse modo, tem sua proteção especial.
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O dom da música
Na noite de seu nascimento, os tambores da batucada lançaram sua magia sobre João Paulo Ribeiro e ele se tornou um mestre da percussão.
O Jotapê, como é conhecido, começou sua carreira em Manaus como baterista da banda Sol de Verão, em 1995.
Tocou com vários nomes da música amazonense, entre eles, o grupo Raízes Caboclas.
Atualmente, aos 59 anos, é percussionista do grupo Gaponga.
E é um dos responsáveis pela orquestra de bioinstrumentos amazônicos no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, em Manaus.
Mas, a magia da batucada se espalhou na casa da rua Armando Prado.
E Jotapê iniciou uma tradição em sua família.
Seu irmão Knisson Ribeiro, 50 anos, o filho caçula de dona Rosa e seu Joaquim, também é percussionista, é batuqueiro e atua junto à Batucada.
Outro irmão de Jotapê, Joaquim Hudson Ribeiro, 50 anos, é bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus.
Embora não exerça a profissão de músico, toca violino, clarinete e já foi batuqueiro.
Keije Ribeiro, sobrinho de João Paulo, também é percussionista e tocou com vários nomes da música amazonense, como Zezinho Corrêa.
O primeiro filho de João Paulo, nascido na véspera de 24 de junho, também recebeu o nome santo de João. Como o pai, é baterista e percussionista.
Atualmente, João Carlos Ribeiro, o Jotacê, é baterista do grupo Casa de Caba e Mady e seus Namorados.
Fotos: divulgação