Até a fila da galera é espetáculo em Parintins

Christiane Rodrigues Ferreira lidera a fila do Caprichoso em Parintins há uma década, formando um grupo de 100 torcedores dedicados.

Diamantino Junior

Publicado em: 23/06/2024 às 13:49 | Atualizado em: 23/06/2024 às 14:39

Por Dassuem Nogueira*

Tudo em Parintins vira espetáculo. Não é diferente com os primeiros das filas das galeras. Eles são um acontecimento no festival folclórico de Parintins.

A parintinense Christiane Rodrigues Ferreira, 44 anos, é há 10 anos a primeira da fila da galera do Caprichoso.

Ano passado ela montou sua barraca na segunda feira da semana do festival, que ocorre sempre no último fim de semana de junho.

Receosa de perder o lugar de primeira da fila nesse ano, ela chegou ao portão da galera no sábado dia 22.

Christiane, é vendedora autônoma. Assim, ela segue trabalhando online mesmo enquanto está na fila.

Na barraca de Christiane, há um colchão inflável para dormir e alguns mantimentos.

Ela não se queixa de insegurança. Durante os dias de festival, o policiamento é reforçado ao redor do bumbódromo. Naquele momento, enquanto a entrevistava, havia uma viatura policial estacionada ao lado.

Christiane conta que, embora organizados, seu grupo não é uma torcida organizada, eles são item 19. Não recebem qualquer auxílio da agremiação. Eles mesmos se cotizam para confeccionar camisas, bandeiras e para as refeições para os dias de acampamento.

Há o grupo de Christiane do lado azul e outro na galera vermelha. Há até um documentário sobre eles.

Unidos pelo perrengue

Christiane faz parte de um grupo de cerca de 100 pessoas.

Ao longo de 10 anos, o grupo cresceu unindo torcedores dispostos a suportar todos os obstáculos para serem os primeiros a subir na arquibancada azulada.

Moradora do conjunto Macurany, ao lado do bumbódromo, ela não fica direto no posto. Há o revezamento com outros componentes do grupo que chegam durante a semana.

Nesse ano Christiane está esperando gente que vem de Barreirinha, Brasília DF, Manaus, Rio de Janeiro. São pessoas de diversos lugares.

O grupo de Christiane não é o único. Mas, embora dispute com os outros a honraria de serem os primeiros da fila, no final, são todos caprichosos. Não há brigas. 

Para serem os primeiros nas três noites, tão logo termina a apresentação do Caprichoso, o grupo retorna para o posto.

Quando notam que outros grupos se movimentam para tomar o seu lugar, eles nem esperam o final. Alguém desce antes para demarca-lo.

O roubo das vitórias-régias

Ela conta que antes de existir o toldo que dá abrigo de sol e chuva para as filas das galeras, ela e seu grupo usavam lona e plástico pra se cobrir na fila. Em 2016, o grupo saiu pelo entorno do bumbódromo em busca desses materiais.

Encontraram vitórias régias de papelão com as quais tanto forraram o chão quanto fizeram uma cobertura. Horas depois, membros do Caprichoso passaram procurando as vitórias régia que serviriam para adereçar as alegorias daquela noite.

Até 2016, as filas das galeras ficavam expostas ao tempo sob sol ou chuva. A partir de 2017, foi instalado um toldo e barreiras de contenção para dificultar a desordem na entrada no bumbódromo.

*A autora é antropóloga.

Fotos: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas