Peixe do Amazonas afeta espécies nativas em rios de SP, diz estudo
Saiba mais sobre o peixe que virou vilão e predador.

Da redação do BNC Amazonas
Publicado em: 13/06/2024 às 11:16 | Atualizado em: 13/06/2024 às 11:16
O peixe corvina ou pescada-branca (plagioscion squamosissimus) tem afetado espécies nativas em rios do estado de São Paulo.
Por exemplo, o peixe amazônico, é o mais provável responsável por uma queda acentuada na diversidade de espécies nativas no reservatório Jaguari, no rio de mesmo nome.
Assim como no rio do Peixe, parte do Sistema Cantareira e da bacia do Paraíba do Sul. Conforme publicação da Agência FAPESP.
Assim, a conclusão é de um estudo publicado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) na revista Biological Invasions.
Segundo a reportagem de André Julião, as análises foram possíveis graças a dados coletados para o monitoramento da fauna de peixes pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp), no qual a espécie passou a ser registrada no reservatório a partir de 2001.
Os dados analisados vão até 2016. Em apenas dez anos, a corvina se tornou a espécie mais abundante do reservatório.
Apesar de amplamente distribuído em reservatórios para geração de energia hidrelétrica em todo o Brasil, não se sabia os efeitos que esse predador poderia causar às espécies nativas. Nossas análises apontam para perdas consideráveis na diversidade de peixes na região, conta Aymar Orlandi Neto, primeiro autor do estudo, realizado na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (Feis-Unesp).
Dessa forma, o trabalho integra seu projeto de doutorado, conduzido no Instituto de Biociências de Botucatu (IBB-Unesp) com bolsa da FAPESP.
Além disso, parte dos resultados foi obtida ainda durante estágio realizado por Orlandi Neto na Universidade de Valência, na Espanha.
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Monitoramento
O monitoramento conduzido pela Cesp é parte das exigências ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a operação da usina hidrelétrica.
Sobretudo, a cada quatro meses, os técnicos da empresa instalavam redes de espera em pontos predeterminados e conferiam os peixes capturados no dia seguinte, tabulando os resultados por espécie e abundância.
Além de um ponto na própria represa, entre os municípios de Jacareí e São José dos Campos, as capturas ocorriam no rio do Peixe e no próprio rio Jaguari.
Pesquisadores realizam coleta de peixes em reservatório no Estado de São Paulo (foto: Igor Paiva Ramos/Feis-Unesp)
Essa série temporal de 15 anos mostra que, além de peixes pequenos, que servem de alimento para a corvina, a abundância de um predador nativo também foi bastante reduzida. À medida que cresceu a abundância de corvina, diminuiu a do dentudo [Oligosarcus hepsetus], afirma Igor Paiva Ramos, professor da Feis-Unesp e coordenador da investigação.
Dessa maneira, com os dados disponíveis, porém, não é possível saber se a redução do predador nativo se deu por competição indireta, uma vez que tanto ele quanto o peixe invasor podem atacar as mesmas presas.
Outra possibilidade é que a corvina, que pode chegar a 80 centímetros, esteja predando o dentudo, cujos adultos chegam a cerca de 30 centímetros.
Sendo um peixe de águas paradas, típica de lagoas, lagos e reservatórios, a corvina se beneficiou do ambiente criado pela barragem. Essa pode ser outra vantagem em relação ao predador nativo, de águas correntes.
Leia mais em Agência FAPESP.
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Foto: reprodução