RS: é hora de falar dos culpados

A tragédia no Rio Grande do Sul é atribuída à negligência governamental, falta de manutenção de diques e comportas, e cortes no código ambiental, não apenas às mudanças climáticas.

Diamantino Junior

Publicado em: 23/05/2024 às 13:37 | Atualizado em: 23/05/2024 às 13:37

Por Lúcio Carril*

A tragédia no Rio Grande do Sul não pode ser atribuída somente à mudança climática, como se ela tivesse batido na porta sem avisar.

Em 2015, ainda no governo Dilma, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República coordenou o projeto Brasil 2040, um diagnóstico feito por vários especialistas para apontar riscos e medidas de adaptação para enfrentar a crise climática.

Elevação do nível do mar, mortes por ondas de calor, colapso de hidrelétricas, falta de água no Sudeste, piora das secas no Nordeste, seca no Norte e aumento das chuvas no Sul foram fatores analisados.

O estudo destacou um aumento do nível de chuva no extremo sul do país em mais de 15%, com possibilidades de cheias e inundações, e apontou a reforma dos diques e comportas de Porto Alegre como necessária para resistir às novas condições do clima.

O documento terminou sendo engavetado após o golpe que derrubou Dilma Rousseff da Presidência da República e, segundo o Ministério do Meio Ambiente, foi extraviado.

Com Temer e, em seguida, Bolsonaro, os desastres ambientais chegaram e encontraram as portas abertas. Este último, um inimigo declarado da vida.

Mas, os governos estadual e municipal tinham e têm conhecimento do aquecimento global e das mudanças do clima. Essa é uma pauta que o mundo discute há décadas e suas consequências são previsíveis e não alarmistas, como defendem os negacionistas.

No caso do Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite jogou no campo negacionista e da extrema irresponsabilidade.

No seu primeiro ano de governo, cortou ou alterou 480 pontos do código ambiental do estado para facilitar exploração em área de preservação permanente (APP), acabar com a proteção das nascentes, dunas e praias e possibilitar a exploração e comercialização de árvores nativas e de espécies ameaçadas de extinção, só para ficar em alguns exemplos.

Leite seguiu seu mestre e passou a boiada. Agora o povo gaúcho colhe o resultado da destruição das normas de proteção ambiental.

Como se não bastasse tamanha barbárie, o governador e o prefeito de Porto Alegre não cuidaram dos diques e comportas.

O rio Guaíba subiu a 5,3 metros, mas os diques e comportas são de seis metros. Como estavam sem manutenção há anos, a forte correnteza derrubou as comportas e o rio se infiltrou pelos diques. Muitas comportas não puderam ser fechadas porque seus trilhos estavam enferrujados.

O governador teve, recentemente, a desfaçatez de justificar a falta de manutenção do sistema de proteção da capital gaúcha por conta da estabilidade fiscal. Uma mentira, pois o Rio Grande do Sul é o pior estado da federação em solidez fiscal. Vendeu todas as estatais, aumentou impostos, destruiu o serviço público e nunca pagou um mês da dívida do estado.

O aquecimento global e as mudanças climáticas têm causas. Não são obras divinas ou do acaso. Elas são provocadas pela ação humana, mas não dos trabalhadores.

É a ganância e a prática de governos que apoiam a usura e o lucro desmedido das grandes empresas e bancos que são as principais responsáveis.

No Rio Grande do Sul não está sendo diferente.

*O autor é sociólogo.

Foto: Agência Brasil